Jogos Vorazes: A Esperança Parte I


Em dezembro do ano passado, postei aqui no blog que havia queimado a língua a respeito da saga Jogos Vorazes depois de assistir ao segundo filme sem ver o primeiro. No texto, disse que tinha um certo preconceito com esse tipo de adaptação mas, ao ir despretensiosamente no cinema assistir Em Chamas, me surpreendi e prometi que ia correndo ver o primeiro. Você pode ler a crítica na íntegra aqui. 

Um ano e alguns dias se passaram. Tempo suficiente para assistir o primeiro Jogos Vorazes para, assim, continuar a saga cronologicamente quando o terceiro lançasse. 

O filme estreou nos cinemas e, após assisti-lo, eis uma observação inicial. Esta tende ser a saga que mais me fez queimar a língua nos últimos tempos. 

Em Jogos Vorazes: A Esperança Parte IKatniss (Jennifer Lawrence), após ser resgatada, se descobre peça-chave de uma guerra. Sob a guarda da severa Presidente Alma Coin (Julianne Moore) e de Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman), ela se torna o símbolo que unirá todos os distritos em torno do mesmo objetivo: a derrubada da Capital. 

Após Harry Potter e as Relíquias da Morte, o conceito de dividir o último capítulo de uma adaptação literária em duas partes para tentar inserir o máximo de detalhes do livro passou a ser uma tendência. Best-sellers adolescentes são os principais alvos. A Saga Crepúsculo e Divergente são outros dois exemplos, além do clássico Senhor dos Anéis e Hobbit. 

Com a grande força dos seriados, o formato acaba sendo aceito pelo público, mesmo que ele não tenha lido o livro. Além de compensar financeiramente os peixes grandes da indústria, o resultado de aceitação se torna satisfatório pela riqueza dos detalhes a criação de expectativa. 

No entanto, é preciso saber bem a forma de se fazer, para que o longa não fique com cara de um capítulo de season finale dividido. Ainda que o intuito do primeiro seja criar uma ansiedade para o próximo, nem sempre compensa recortar o filme numa cena de clímax. Harry Potter talvez tenha sido o único a entender esse conceito e dividiu suas partes com começo, meio e fim. 

A Esperança Parte I tem apenas esse fator como ponto negativo. O corte final foi seco, morno, sem clímax e com pouca força. Em compensação, a ansiedade para o próximo se deve ao conjunto da obra que, ao que tudo indica, a coisa vai ficar feia. 

O grande trunfo desse terceiro filme é a inteligência do roteiro. Não temos mais o tal Jogos Vorazes acontecendo. Portanto, o ritmo acelerado de ação é quase nulo, o que confirma ainda mais a força da saga.  

Sem a ação e a adrenalina de acompanhar os jogos, o público se vê obrigado a encarar uma espécie de guerra psicológica, em que os dois lados travam uma disputa praticamente fria para convencer as pessoas de aderir ou não à revolução contra a Capital pelo mesmo meio, a manipulação de massa 

Katniss, símbolo maior da revolução com O Tordo, é convocada a fazer propagandas encorajando e incentivando o enfrentamento. Enquanto isso, Peeta é capturado e usado como um artifício, por meio de um talk showpara não só convencer o povo de cessar fogo, como também para atingir a garota. 

O amadurecimento da trama é nítido durante o decorrer da mesma. O espectador percebe que não está lidando com mais uma história de aventura ou sobre um triangulo amoroso para adolescentes. A história é complexa, o roteiro é desenvolvido e ainda assim, possui a vantagem de saber transmitir as ideias com linguagem simples e de fácil entendimento.  

Francis Lawrence, de Em Chamas, assina novamente a direção e consegue impor seu ritmo com bastante qualidade. É muito difícil prender a atenção do espectador com um filme que serve de intermédio para um capitulo final, ainda mais quando se trata do público em questão e da proposta deste longa. 

Quanto às atuações, Jennifer Lawrence volta ao papel de Katniss Everdeen em uma de suas melhores atuações na carreira. A atriz consegue passar toda a angústia da personagem, diferenciando um pouco do que ela era nos dois primeiros filmes. Já Josh Hutcherson, mais uma vez não me convence no papel de Peeta Mellark. Tudo bem que o filme não o favorece para mostrar seu trabalho, mas o garoto é inexpressivo, não possui o mesmo carisma da protagonista. 

Destaque póstumo para Phillip Seymour Hoffman, que faz ótimo trabalho. O ator cometeu suicídio no início de 2014. Com certeza, uma enorme perda para o cinema. 

Com roteiro forte e argumento inteligente, a franquia de Jogos Vorazes mostra, mais uma vez, que é possível fazer filmes de alto nível sem fazer firulas ou desprezar a capacidade de entendimento do público. A Esperança Parte I não só serve como entretenimento, como também faz pensar a respeito da sociedade e abusa de ótimas metáforas para isso. A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, nunca foi tão bem referenciado para o público jovem. E eu nunca queimei tanto minha língua.  

Nota:

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