Batman vs Superman: A Origem da Justiça



Seria muito injusto e desigual fazer comparações entre o mundo cinematográfico da DC e o da Marvel se não fosse por um detalhe: A DC comprou a briga. Enquanto a Marvel está consolidada no mercado, com o universo expandido e com mais da metade da saga central produzida, a editora concorrente ainda está tentando se encontrar nas telonas para chegar em seu pote de ouro: A Liga da Justiça. E vai chegar, inclusive, fechando a segunda e ultima parte da saga em 2019, propositalmente no mesmo ano da segunda parte e do desfecho de Os Vingadores – Guerra Infinita. Pois é, tem alguém com pressa.


Sendo assim, para que não tenha enrolações, eles decidiram iniciar a expansão do universo com toda sua munição possível, o tão esperado Batman vs Superman.
Batman vs Superman começa praticamente de onde terminou "Homem de Aço". Depois de ter derrotado o General Zod e causado a destruição em Metrópoles, o Superman divide a opinião da população. Enquanto muitos o consideram um herói e semi-deus, outros o veem como ameaça. Bruce Wayne é um deles e decide ser o grande algoz do Kryptoniano.
Para começar, é bom destacar o primeiro ponto positivo. Apesar da divulgação dos trailer ter sido abusiva, eles não entregam absolutamente nada sobre a essência da trama. Mulher-Maravilha, Lex Luthor, etc...Nada prejudica. Talvez o único erro deste fato foi ter colocado o Apocalipse logo de cara, poderiam ter deixado a surpresa, mas o efeito contrário de "A Era de Ultron" deu bem certo. (Aprende Marvel)
Desde o "Homem de Aço" há um elemento que me preocupa muito no projeto: Zack Snyder. O diretor vive de altos e baixos, como o excelente "Watchmen", o bom "300" e o fraco "Sucker Punch". Suas manias são perceptíveis e irritantes, como o abuso de câmeras lentas e excesso de CGI. Sim, elas se repetem em BvS, mas esses não são os maiores defeitos da trama.
O primeiro quarto do filme é uma verdadeira bagunça e peca demais na edição. São diversos núcleos praticamente jogados na tela com cortes médios que cansam e confundem o espectador. Não há uma certa coerência, as (muitas) informações são simplesmente jogadas em qualquer ordem e isso acaba o tornando um pouco sonolento. Ainda há algumas cenas desnecessárias e que pouco acrescentam na trama.
Outro ponto que pode prejudicar é o excesso de referências aos quadrinhos. Quem pouco conhece, talvez saia do cinema com mais dúvidas do que conclusões. Até porque, o filme tem duas horas e meia e é repleto de personagens e pequenas participações. O fanservice está lá, mas é arriscado demais confiar no conhecimento do público em geral, que está lá simplesmente para assistir ao filme.
Ainda assim, um bom acerto do roteiro é não se render à pancadaria desenfreada, pelo menos não até seus desfechos. O público não deve ir ao cinema esperando que Batman e Superman saiam na mão desde o primeiro encontro. Mais interessante do que o confronto em si, está a motivação e o porquê do combate, e isso é uma das grandes qualidades da trama.
Outro grande ponto do filme é seu tom sério, algo que a produtora insiste em manter ao contrário de sua concorrente, que gosta de cores, piadas e referências pop. O mundo da DC é diferente, é sombrio, pesado, e até mesmo mais realista. Em questão de profundidade dos personagens, não há dúvidas de que a editora se destaca sobre a Marvel.  
Existe bondade nos indivíduos? Qualquer um pode se corromper? Esses são alguns dos conflitos que os dois personagens vivem. De um lado um Batman mais experiente, mas que ainda sofre com os fantasmas do passado. Do outro, um Superman que convive com o peso de estar acima de deuses e demônios, sempre com a dúvida de o que faz é certo ou não.  Basicamente aprendendo com o tempo a lidar com suas complexidades.
Obviamente, seria impossível destacar os heróis se não fossem as boas atuações dos seus respectivos atores. Henry Cavill parece estar mais à vontade na pele do homem de aço e interpreta o herói com um pouco mais de carisma do que faz no anterior. Seus trejeitos de Clark Kent são bem desenvolvidos e neste filme é possível ver claramente a profundidade do personagem. Além disso, é importante ressaltar a mudança temporal do personagem. Um herói clássico, que foi preciso fazer uma readaptação para os dias atuais, onde tudo é mais crítico. Será que um Superman seria aceito em nossa sociedade?
Ben Affleck é o grande pilar do longa no papel do homem-morcego. Sim, é totalmente possível dizer que até o momento esta é a versão definitiva do Batman nas telonas, superando até mesmo Christian Bale. O playboy de crises existenciais e morais dá lugar a um homem amadurecido, um anti-herói assumido, que reconhece sua escuridão e por isso age de maneira inescrupulosa e violenta. As características do herói são completamente fiéis aos quadrinhos do "Cavaleiro das Trevas" de Frank Miller.  Isso sem contar na roupa acinzentada e um design mais clássico. (Eu disse, eu disse!)
Jesse Einsenberg é outro destaque. Sua atuação como Lex Luthor, apesar de ótima, se torna inevitável a comparação à sua intepretação de Mark Zuckemberg em "A Rede Social". Um jovem brilhante e de humor ácido, com roupas alternativas e dono de uma das maiores empresas do mundo. Ainda assim, seu Lex peca um pouco pela sua excentricidade. Parece que tentaram deixá-lo parecido com o Coringa, mas se esqueceram de que o sadismo de Lex é mais sereno, e isso o torna um dos vilões mais interessantes do Universo DC.
Gal Gadot, por sua vez, é a grande surpresa do filme. A Mulher-Maravilha foi de longe um dos maiores acertos do longa. O timing de sua aparição é perfeito e apesar de pouco tempo em ação, já dá pra ver que seu filme solo tem tudo para ser um dos melhores da saga.
Um pouco desorganizado, mas bem desenvolvido e com boas atuações, Batman vs Superman: A Origem da Justiça cumpre sua principal função, a de expandir de vez o Universo DC nos cinemas. O filme executa a missão com dignidade, mas peca pelo excesso de informações e paga pela pressa da DC em querer alcançar logo a Marvel. Ainda estão atrás, mas pelo andar da carruagem e se conseguirem fechar as pontas soltas, é bem provável que até 2019 as brigas pelas bilheterias sejam tão parelhas quanto qualquer confronto entre heróis. Quem ganha é o público.

Nota:

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