A Vida Secreta de Walter Mitty



“Take your protein pills and put your helmet on”

Você já ouviu Space Oddity? A música, composta em 1968 por David Bowie, fala sobre um astronauta que decide sair da nave e, devido a um acidente com a mesma, perde o contato com sua base, o deixando a esmo no espaço sideral. Para muitos, o hino diz muito sobre a coragem de atravessar fronteiras e enfrentar o desconhecido. 

Assim como o novo filme de Ben Stiller.

A Vida Secreta de Walter Mitty é uma refilmagem de O Homem de 8 Vidas (1947), adaptação do conto de 1939, escrito por James Thurber. No filme, Walter é um sujeito sonhador, responsável pelo departamento de arquivo e revelação da tradicional revista Life, que deixará de ter uma versão impressa para ter apenas conteúdo online. Ele recebe um pacote com negativos de um famoso fotógrafo, com a indicação de uma foto para utilizar na última capa da revista. Mas tem um problema, tal foto não está no pacote e ele é obrigado a procurar pelo misterioso fotógrafo, que não tem telefone e vive por lugares perigosos em busca de grandes imagens.

Ben Stiller nunca foi considerado um ator excepcional, longe disso, aliás. Seus filmes sempre foram parecidos, seus personagens, idem. Como diretor não decepciona. Zoolander e Trovão Tropical são bons filmes de humor. Walter Mitty, no entanto, é sua tentativa de finalmente se tornar um diretor sério e respeitado. Quase lá.

A identificação do espectador com o personagem é rápida. Um homem como qualquer outro, que possui suas aspirações e medos. Que precisa de um choque para enfrentar o mundo em busca de seus sonhos e realizações.

Algo que passou despercebido foi o fato da reestruturação das mídias tradicionais. A Revista Life saiu de circulação há anos para se tornar um portal online, porém, a temática é valida para os dias de hoje, em que vemos revistas fechando, jornais diminuindo e inúmeros funcionários sendo demitidos pela situação. O filme explora bem pouco esse assunto, mas não deixa de ser relevante e atual. Stiller acertou em trazer o assunto às telonas.

O longa possui uma ótima jogada de cores com o decorrer da história. No inicio, temos um clima cinzento assim como a vida de Mitty, rotineira, sem graça e que sua única dose de adrenalina é tomar coragem para mandar uma “piscada” para uma garota em uma rede social. As cores mais vibrantes vão criando forma conforme as atitudes e decisões do protagonista, tendo como resultado uma fotografia fantástica. Não se espante, talvez você possa lembrar de Wes Anderson pelo colorido e trilha sonora. A sensação de leveza é bem parelha, mal sentimos suas quase duas horas de duração.

Outra boa sacada é a relação entre sonho e realidade. Walter é um homem pacato, mas vive no mundo da lua e fica fora do ar ao se imaginar tomando atitudes corajosas e cinematográficas com situações diárias, como enfrentar seu novo chefe. Ao longo da trama, essas situações fantasiosas dão lugar para as reais, numa transição lenta, mas eficaz. O público e até mesmo Walter ficam em dúvida no começo sobre o que é ou não real, contudo, a dúvida vai ficando para trás e seus feitos passam a ser verídicos.

O diretor mostra, também, que não perdeu seu senso de humor ao incluir boas paródias. Exemplo disso é uma cena hilária satirizando O Curioso Caso de Benjamin Button.

Além de diretor, Ben Stiller interpreta o protagonista junto a um elenco muito competente. Kirsten Wiig faz bom trabalho no papel de Cheryl Melhoff, mulher por quem Walter é apaixonado e importante para sua motivação. Outro bom destaque é Sean Penn, que interpreta o fotografo Sean O’Connel. O ator faz uma pequena ponta, mas é o suficiente para valer o ingresso. Uma cena pura e bonita de se ver.

Ground control to Major Tom

Mas o que diabos tem a ver o filme com Space Oddity? Tudo. O longa cita a canção inúmeras vezes e é usada como metáfora na transição entre o velho e novo Walter Mitty. Assim como Major Tom, Walter decide sair de sua cabine, do local de conforto em direção às estrelas, aquilo que busca para si. 

O único erro de Stiller, foi o de se referir à musica como Major Tom, não o nome original. Deve haver algum motivo para que isso tenha acontecido, mas ainda sim é uma falha.

Quando cantada na íntegra por Kirsten Wiig em mais uma viagem de Mitty, ela se torna o principal elemento para a passagem do primeiro para o segundo ato.

Leve e sincero, A Vida Secreta de Walter Mitty pode até parecer um filme com tema batido, mas é destinado pra mim e pra você. É algo individual, do tipo que traz uma mensagem diferente para cada um de nós e vai dividir opiniões sobre cada concepção a seu respeito. Saia de sua capsula, sonhe, mas não se esqueça de viver, afinal, todos nós temos um pouco de Walter Mitty. 


                   Nota:

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