Interstelar



Christopher Nolan é um dos caras mais inteligentes e regulares do cinema atual. Em meio à tantas produções mais do mesmo, o diretor consegue extrair aquilo que há de melhor num longa metragem e dificilmente você o verá fazendo filmes ruins. Inclusive, seus últimos trabalhos são considerados verdadeiras obras primas, como é o caso da trilogia BatmanO Grande Truque A Origem. 

Sendo assim, após dois anos de The Dark Knight Rises, eis que ele está de volta com força máxima em Interstelar e, sim, ele fez de novo. 

Em um futuro não muito distante, a Terra possui pouquíssimos recursos naturais para manter a sobrevivência da população por muito tempo. O engenheiro espacial Cooper (Matthew McConaughey) trabalha como fazendeiro cultivando milho ao lado dos filhos e do sogro até ser chamado para liderar uma missão espacial que busca explorar novos planetas que podem substituir a Terra.  

O primeiro ato do filme é totalmente voltado para a construção dos personagens e suas relações, obviamente com enfoque maior no protagonista. Este talvez seja o filme com maior dramaturgia de Nolan, algo que o diretor sempre deixou em segundo plano. Conhecemos de cara a relação de Cooper com sua filha, Murph. A garota possui um interesse grande na ciência e seu pai lhe dá o maior incentivo. A química entre McConaughey e Mackenzie Foy é perfeita e contribui muito para o peso emocional dessa primeira parte. 

Em seguida, somos levados ao espaço com o mesmo pesar da equipe ao deixar a vida (ainda que precária) na Terra para encontrar uma solução. E é aí que embarcamos de vez na viagem do filme.  

É bom deixar claro que Interstelar começou com um roteiro de Jonathan Nolan para Steven Spielberg que, no final das contas, passou a direção para Christopher que, por sua vez, reuniu algumas ideias próprias às do irmão e tirou a obra do papel, literalmente. 

O filme é completamente baseado na teoria da relatividade de Albert Einstein. E o diretor não só explora a ideia, como a transmite na pratica. Sabemos bem o quão fanático ele é em seus temas abordados. Uma das cenas mais marcantes da exposição desse fanatismo é quando os integrantes da equipe realmente se dão conta de que o tempo na Terra equivale ao dobro (ou mais) do tempo deles no espaço. Uma sequência fantástica e emocionante, que conta com um peso absurdo da atuação de McConaughey. 

Outro ponto forte são as inspirações de Nolan. É impossível assistir ao filme sem se lembrar de 2001: Uma Odisseia no Espaço. A referência visual das cenas do espaço, assim como a trilha sonora (feita pelo excelente Hanz Zimmer) e certos momentos de diálogos deixam bem claro que o diretor fez curso intensivo na escola Kubrick, obvio que não podia dar errado. Mesmo sem versões em 3D, a experiência visual é tão sensacional quanto GravidadeOutra referência interessante é na fotografia de algumas cenas, um tanto quando J.J. Abrams, vistas de baixo e com alta luminosidade.  

Nas análises teóricas, o filme apresenta pontos de vistas quânticos não discutidos desde a série Lost (coincidentemente de Abrams). Questões como o buraco de minhoca, tempo e espaço e estão de volta no longa. Não se preocupe, tudo é bem explicado e didático para que o espectador não se perca em meio à tantas informações, essas que são inseridas até por meio de equações. Como disse anteriormente, Nolan é obcecado por tudo que faz e não abre mão de nada. 

Quanto às atuações, isso não há o que discutir. Muito se deve a Matthew McConaughey. É incrível como ele virou um ícone quando se trata de atuações memoráveis. Só esse ano foram duas: Clube de Compras Dallas e este que vos falo, sem contar a ponta genial em O Lobo de Wall Street. Suas expressões faciais e ações durante o filme ditam a forma com que o espectador encara a situação. Sentimos na pele seus sofrimentos e emoções. Até então, temos um concorrente forte ao Oscar de Melhor Ator. 

O restante do elenco também faz um excelente trabalho: Anne Hathaway, no papel da Dra. Brand, companheira de equipe de Cooper, faz ótima função de apoio ao protagonista no espaço, enquanto Jessica Chastain (Murph na fase adulta) e Michael Caine (Dr. Brand) são os responsáveis pelas excelentes atuações na Terra, inclusive, tendo uma cena determinante para o decorrer da trama. 

Com três horas de duração (que por sinal passam voando)roteiro fantástico e trilha sonora impecávelInterstelar mexe com nossas emoções a todo momento. É o tipo de filme que o espectador vai sair da sala em transe e não vai esquecê-lo por um bom tempo. A história vai muito além da ciência e é mais humana do que se pode imaginar. É incrível, é lindo. 

Sem entrar no mérito de ser ou não o melhor trabalho de Nolan até agora, é fato que o diretor conseguiu fazer sua própria odisseia no espaço eum clássico contemporâneo de ficção-científica. Sinceramente, eu poderia finalizar o texto com alguma questão metafísica ou inspiradora, mas o que me vem na cabeça é apenas uma indicação: Assista o quanto antes, sem pensar duas vezes e, de preferência, na maior sala de cinema que você encontrar. 




Nota:


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