Vez ou outra, no meio de tantos grandes lançamentos, surge um daqueles filmes que chegam sem alarde, nem apelo comercial, mas que fazem valer a experiência e dificilmente saem da sua cabeça. Conquistam o público pela história, pelos personagens, ou apenas conquistam, simples assim. Richard Linklater foi um dos responsáveis por um desses trabalhos, uma grata surpresa aos amantes do cinema.
Boyhood - Da Infância à Juventude é um projeto que durou 12 anos. Linklater reunia a equipe durante alguns dias desde 2002 para rodar as cenas. Tudo em segredo. O intuito era acompanhar a vida de um garoto dos seis aos dezoito anos em tempo real, desde a sua entrada para a escola até a faculdade.
O diretor americano possui ótimos projetos no seu currículo. Desde o divertido Escola de Rock até a trilogia Antes do Amanhecer, finalizada ano passado, depois de quase dez anos do primeiro. No entanto, é Boyhood seu principal projeto na carreira e seu último, como ele mesmo disse.
Na história, Mason é filho de pais separados que vive com a mãe e a irmã. Ele precisa aprender a lidar com as relações da mãe, a distância do pai e todos os conflitos que um garoto passa durante sua vida.
Não espere ação, reviravoltas ou roteiro desenvolvido. O filme é muito mais que isso. É sobre o tempo, sobre família, sobre a vida. Mason é apenas uma pequena engrenagem neste longa de enorme potencial. Tudo funciona em perfeita harmonia. Os elementos estão todos ali para te fazer ter uma experiência ainda não vista nas telonas, mas que chega perto da clássica série A
Imagine-se abrindo seu guarda-roupas e pegando aquela caixa de coisas antigas. Essa é a sensação de assistir Boyhood. Você relembra os velhos tempos, principalmente aqueles que cresceram nos anos 2000. A trilha sonora é fantástica e acompanha cada época, assim como as referências pop, que estão ali para alimentar ainda mais a nostalgia para todas as idades. Desde Harry Potter e High School Musical até mesmo as eleições presidenciais dos EUA.
Quanto ao elenco, esse é primoroso desde o início do projeto. Patrícia Arquette e Ethan Hawke interpretam os pais do garoto e são os atores mais conhecidos do longa e fazem ótimo trabalho. Mais destaque para Arquette, que desde o início se mostra uma guerreira e comprova isso com o passar dos anos. Lorelei Linklater, filha do diretor, interpreta Samantha, irmã de Mason, que no começo possui atuação razoável, mas evolui conforme seu amadurecimento. Infelizmente pouco vemos a atriz em cena na segunda metade do longa.
Ellar Coltrane é Mason, o foco do filme. Sua atuação é fantástica do início ao fim. O mais estranho e ver o ator mirim fazendo ótimo trabalho, mas saber que não o veremos mais em cena, já que ele cresceu. Felizmente, o garoto já crescido desempenha um papel tão bom quanto quando era menor.
É difícil comparar as fases, já que cada período significa um conflito diferente, outras formas de responsabilidade e é isso que conquista o espectador. Todos ou a maioria das pessoas já passaram por dificuldades similares e por mais longo que seja (2h45), em nenhum momento ele é monótono. As transições entre uma idade e outra são tão sutis que temos a impressão de estar acompanhando toda a trajetória da família.
Com uma história crua, sem pieguices e apelos sentimentais, Boyhood - Da Infância à Juventude conquista o espectador por sua simplicidade e é um dos melhores filmes do ano, senão o melhor. Quase três horas de filme para fazer com que 12 anos, 4200 dias de produção e apenas 39 de filmagens valessem a pena, e valeu. Richard Linklater está impecável na sua direção de despedida. Seu único erro é um só: Não acompanhar mais a vida de Mason pelos próximos 30 anos.