David Fincher não é muito de dar as caras sempre. Com apenas dez filmes no currículo, o diretor costumar passar um tempo longe dos holofotes até seu próximo lançamento. No entanto, quando ele aparece, pode ter certeza que vem algo grande, que beira o memorável, se não o alcança.
Seven, Clube da Luta, O Curioso Caso de Benjamin Button, A Rede Social e a série House of Cards são alguns dos mais conceituados trabalhos do diretor. Três anos depois de seu último filme, o primeiro da saga Millenium, eis que Fincher nos traz mais um obra: Garota Exemplar.
Adaptação do livro homônimo, escrito por Gillian Flynn, que vendeu mais de 6 milhões de cópias no mundo todo, o filme conta a história de Amy Dunne (Rosamund Pike), que desaparece no dia do seu aniversário de casamento, e deixa o marido Nick (Ben Affleck) em apuros. Ele começa a agir descontroladamente, abusando das mentiras, e se torna o suspeito número um da polícia. Com o apoio da sua irmã gêmea, Margo (Carrie Coon), Nick tenta provar a sua inocência e, ao mesmo tempo, procura descobrir o que aconteceu com Amy.
Fincher possui tons característicos na hora de dirigir seus projetos. Normalmente, o que vemos são longas intensos, mas ao mesmo tempo serenos e constantes. Contudo, assim como todos a maioria dos diretores, precisou se adaptar ao cinema mais comercial e passou a encarar projetos maiores e mais ambiciosos. Garota Exemplar não é diferente.
O filme tem inúmeros elementos para voar alto e alcançar premiações no começo de 2015, a começar pela escolha do elenco. Ben Affleck, apesar de ser conhecido, tem tido seu ápice aflorado nos últimos anos. Incrível como o ator teve uma reviravolta em sua carreira e passou de chacota para um homem respeitado. Seu trabalho no longa pode não ser primoroso, mas Fincher soube explorar bem suas qualidades e colocar suas limitações de lado. Já Rosamund Pike foi escolhida entre diversas atrizes de grande escalão, como Reese Whiterspoon. Ainda assim, é dela o maior destaque da trama. Pike faz um trabalho esplêndido e é uma forte concorrente a melhor atriz no próximo Oscar. O diretor gosta de impulsionar atrizes, Rooney Mara e Kirsten Stewart que o digam.
Já o roteiro possui uma estrutura bastante eficaz e funciona como adaptação. No entanto, sua longa duração faz com que ele oscile em alguns momentos. Com duas horas e meia, o espectador pode se entediar. Assim como no livro, a trama é apresentada sob as duas perspectivas, obviamente com a de Nick em maior destaque. Sendo assim, a partir da primeira metade, ele engata como thriller. Lembra que eu disse que os filmes de Fincher possuem tons serenos até o fim? Então, não espere nada diferente.
Ainda que hajam reviravoltas ao melhor estilo do diretor, o final peca por não conter a intensidade que é o filme todo. Não chega a decepcionar, mas o longa se encerra de maneira pacata, simples assim. Um único elemento que poderia derrubar tudo por terra. Com uma dose de humor ácido e críticas ao casamento convencional, o espectador vai adorar, mas pode ser que saia da sala com a impressão de ter sido abandonado no altar.
Com ótimas atuações e um conjunto da obra excelente, Garota Exemplar é um filme pronto para o sucesso. Pode não ser tão memorável quanto os clássicos do diretor, nem seu melhor projeto mas, definitivamente, David Fincher e filme ruim não encaixam na mesma expressão.
Nota:
