Série Oscar 2014: Nebraska



No dia 16 de janeiro, quando os indicados ao Oscar foram divulgados, entre os nove filmes indicados ao prêmio máximo eu conhecia apenas metade. Elegi meu favorito ainda naquele dia, O Lobo de Wall Street foi o escolhido pelo fato de ser fã assumido de Martin Scorsese e ter achado um dos seus melhores filmes nos últimos anos.

Porém, dentre os que eu mal tinha ouvido falar, três me chamaram a atenção: Ela, Philomena e Nebraska. Os dois primeiros me conquistaram de primeira, um com seu roteiro criativo e bem desenvolvido, outro por sua graciosidade. Já o terceiro da lista, bem...Será que dá tempo de mudar meu voto?

Nebraska conta a história de Woody, um senhor de idade alcoólatra, que, após receber uma propaganda pelo correio, acredita ter ganho US$ 1 milhão. Para isso, teria que viajar à Lincoln, no Nebraska. Sem condições físicas e com sérios problemas de saúde, ele incomoda a esposa com a ideia e acaba convencendo o filho David a acompanhá-lo.

Imagine um filme de Wes Anderson, mantenha sua fotografia, só que ao contrário de cores vibrantes e felizes, coloque em preto e branco e dê um tom melancólico. Essa é a característica principal de Alexander Payne em Nebraska.

Sua forma de humor peculiar, já registrada em outros filmes como Sideways, está bem explicita nesse filme, e a característica de road-movie, também. Payne opta pelo preto e branco não só pela estética, mas pelo tom do filme. Uma cidade pacata em que nada de bom acontece, a não ser a notícia de que um velho conhecido dos moradores está prestes a se tornar um milionário, justamente onde entra o conflito familiar. A felicidade pode até existir, mas nas entrelinhas.

Outro ponto positivo na escolha de filmagem é pelo fato de trazer ao espectador um ar nostálgico que o próprio protagonista vive. Quando sofre um acidente a caminho de Lincoln, Woody é obrigado pelo filho a parar em sua cidade natal para se recuperar na casa de familiares. É praticamente ali que a história acontece. O prêmio passa a ser deixado em segundo plano ao apresentar o confuso personagem revivendo tudo aquilo que deixou para trás, passando por sua infância e amizades quando adulto. Aos poucos, Woody se dá conta de que tudo mudou.

Mas o mais interessante da trama é exatamente sua sinopse. Existem histórias que pensamos. “Isso daria um filme”, o que não acontece com o enredo em questão, que pode soar banal. Qualquer pessoa torceria o nariz ao ouvir a indicação de alguém sobre um filme que fala de um velho gagá que acha que ficou milionário. Sim, nas palavras mais informais é possível descrever dessa maneira. Mas o roteiro foi tão bem escrito que desenvolveu um dos longas mais profundos do ano. Tudo nele funciona, e o público sai da sala de cinema com a sensação de ter visto um dos filmes mais marcantes.

Alexander Payne é um ótimo diretor de atores. E suas escolhas para integrar Nebraska são precisas. Will Forte no papel de David faz ótimo trabalho. O caçula diverge da opinião da família, inclusive seu irmão, de que seu pai deve ir para um asilo. A personagem pode soar um tanto quanto perdedora, mas não decepciona nas cenas mais dramáticas ao lado de seu pai. Já June Squibb interpreta Kate, esposa de Woody que só sabe criticar seu marido e em muitos momentos age de maneira inconveniente. No entanto, Squibb justifica sua indicação a melhor atriz coadjuvante ao evoluir de acordo com o filme e atuando de forma tão natural que podemos facilmente acreditar que suas lamentações e seu casamento são reais.

Mas o verdadeiro grande pilar é Bruce Dern como protagonista. O ator de 77 anos, que nunca teve um papel à sua altura, é brilhante na sua atuação. Ainda que o público saiba de suas dificuldades, se identifica e torce para que seu objetivo seja alcançado. Ele consegue comover e cativar a todos com sua inocência rabugenta e a cada atitude tomada. Sua indicação ao Oscar de melhor ator é merecida e, admito que se conseguir desbancar DiCaprio e McConaughey comemorarei muito.

Bonito, divertido, triste e cativante do começo ao fim, Nebraska é criativo à sua maneira e a simplicidade em forma de filme, que merece todos os prêmios possíveis. Não se apegue à sinopse rasa, nem ao tom de preto e branco. Esse é o típico filme que o mundo inteiro precisa ver, e se depender de mim, verá.

Nota:

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