Série Oscar 2014: 12 Anos de Escravidão



De uns tempos pra cá, a escravidão deixou de ser um assunto polêmico no cinema e passou a ser um tema retratado em alguns filmes. Inclusive, ano passado tivemos dois concorrentes ao Oscar de melhor filme que abordavam o tema: Lincoln e Django Livre.

Tarantino se encarregou de explorar o lado mais cru da época à sua maneira. Já Spielberg contou a vida do décimo sexto presidente dos EUA com a abolição da escravidão como pano de fundo.

Em 2014, Steve McQueen é o responsável por mostrar a realidade da época em um tom mais sério. O que faltou nos anteriores citados.

12 Anos de Escravidão, adaptação do livro homônimo, é sobre Solomon Northup, um negro livre de Nova Iorque que é sequestrado e vendido como escravo no sul. O livro foi escrito pelo próprio Solomon no século 19.

É difícil falar sobre esse filme por dois motivos: O primeiro porque a obra retrata exatamente o que aconteceu na época e com certeza o tema merece algo à sua altura. O segundo motivo é que o desafio de fazer isso é enorme. E infelizmente não foi dessa vez.

Steve McQueen tentou de tudo para não tornar seu filme maçante. E até conseguiu, mas a vontade de querer mostrar todos os aspectos e detalhes não impediu de torná-lo sem alma. Isso mesmo, mesmo sendo tocante a trama acaba ficando um tanto quanto burocrático, feito para ganhar prêmios pela ousadia.

Não que toda a emoção descrita seja mentirosa, ela existe, mas em quatro momentos ou menos. São doses homeopáticas de cenas em que o público se emociona. No restante, apenas se choca com a realidade mostrada. Aliás, só sentimos o tempo do título na ultima cena. Não se sente a agonia do protagonista em voltar para sua família, apenas a dor de ver o dia a dia da escravidão, essa que mais parecem ser dois anos, não doze.

Obviamente um filme tão elogiado pela crítica não é de todo ruim. Aliás, ninguém está dizendo que o filme é ruim. Seus pontos positivos são muitos também, e que fazem jus a todo esse alarde em volta dele.

McQueen capta bem a essência da direção. Suas capacidades já foram mostradas no ótimo Shame. É ousado e cru, não poupa ninguém de mostrar a realidade, que, infelizmente assombra nosso passado, mas o grande mérito dele é não abusar da violência como Django fez. Sua sensibilidade é enorme e o timming das situações preciso. A fotografia, feita por Sean Bobbit, é impecável. Os tons quentes dão o clima do Sul e ajudam a dar o tom da narrativa. Além de contar com um elenco muito competente.

O trio de ferro é composto por Michael Fassbender, Lupita Nyong’o e Chiwetel Ejiofor, como Solomon Northup. Ejiofor faz um trabalho brilhante como protagonista e emociona o público. Em uma das cenas em que isso acontece, Northup canta junto com os escravos após um funeral e se emociona. Ali seu choro é verdadeiro, de quem já não aguenta mais passar por tudo aquilo. Já Lupita Nyong’o faz ótimo papel na pele de Patsey, uma escrava pela qual seu mestre se apaixona. Seu trabalho é muito mais profundo do que se aparenta. O Oscar de melhor atriz coadjuvante é merecido com toda certeza. 

Mas Fassbender é o grande destaque. Ele interpreta Epps, dono de uma plantação de algodão que acredita ser mestre de escravos por ordem divina. Em sua terceira colaboração com McQueen (Shame e Hunger), o ator é brilhante na sua atuação. Seus surtos e sua obsessão por Patsey dita o rumo da história. Ele odeia ser apaixonado por ela, e deixa isso explicito em uma das cenas mais fortes, em que os três atores citados contracenam juntos durante uma punição à garota.

É tocante, revoltante e impressionante (perdoe as rimas), mas mesmo sendo tudo isso 12 Anos de Escravidão não engata. Não foi meu favorito a melhor filme e passou longe. Uma história tão bonita e tão triste ao mesmo tempo precisava de um pouco mais de alma, de profundidade. O que não aconteceu. O resultado é satisfatório e o filme é bom, mas é apenas mais um. Infelizmente, mesmo ganhando um dos principais prêmios da noite do Oscar, o filme é acadêmico e só servirá para ser passado nas escolas no futuro.


Nota: 

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