Filmes ambientados no espaço nem sempre são fiéis aos
acontecimentos reais. Até mesmo porque, pouquíssimas pessoas no mundo sabem o
que realmente se passa lá em cima. No geral, sabemos que não há som,
oxigênio, gravidade, nem a menor condição de sobrevivência Apollo 13 de Ron Howard e 2001: Uma
Odisseia no Espaço de Stanley
Kubrick souberam retratar esses fatos com perfeição e se tornaram
referências no assunto. Porém, devido às suas respectivas épocas, nenhum dos
dois diretores possuía recursos tecnológicos o suficiente para deixar a obra
impecável.
Agora, no auge da tecnologia, o diretor mexicano, Afonso Cuarón nos fez o favor de
atualizar essa pequena lista de clássicos e nos entregar uma verdadeira obra
prima.
Gravidade conta a
história de três astronautas com a missão de fazer consertos externos no
telescópio Hubble, e são atingidos por destroços provenientes de uma explosão
de outro satélite por um míssil russo. Um deles morre, enquanto os demais ficam
à deriva em órbita da Terra.
Essa sinopse descreve praticamente o que acontece na cena de
abertura, que dura cerca de uns vinte minutos sem corte algum. Cuarón costuma
fazer cenas longas e câmeras únicas, sem interrupção, e já nesta cena é
possível identificar as primeiras características dele, que se tornam
constantes durante o longa e aumentam a sensação de desespero e aflição.
O diretor procura também fazer bons jogos de cena ao mesclar
planos gerais e primeiros planos, utilizando bem a relação entre a grandeza da
mente humana e seu tamanho perante o universo, que praticamente o engole. Além
disso, bons takes de câmeras girando dão o tom de instabilidade e causam uma
certa agonia ao público. Chega a dar vertigem em alguns momentos.
Mas nada disso seria tão perfeito se não fosse a utilização da
tecnologia. Os efeitos visuais são impressionantes e não deixa nada parecer
artificial. Desde a construção do cenário, até a veracidade dos acontecimentos.
Um dos exemplos é a falta de propagação de som durante as explosões no vácuo,
retratada com maestria, ao som de uma trilha sonora única e fotografia
impecável.
Outro grande ponto favorável é, pasmem, a utilização do 3D.
Entre muitas utilizações desnecessárias que só fazem o ingresso ficar mais
caro, eis que uma produção soube utilizar de maneira fantástica essa tecnologia
até então explorada de maneira rasa. A sensação de profundidade existe e é um
dos fatores determinantes para a imersão do público nesse ambiente tão
inóspito. O elemento gravidade zero dá margens para que se tenha uma boa
perspectiva e encante o espectador até mesmo nas cenas clichês em que algum
objeto se aproxima da tela.
Um elenco de dois
Sandra Bullock e George Clooney são praticamente os
únicos atores na trama, isso porque o terceiro astronauta tem uma participação
nula e o restante são apenas vozes dos rádios de comunicação. Mas isso não quer
dizer nada. Os dois são verdadeiros pilares e ajudam a dar consistência ao
longa. Clooney é o responsável pelo alívio cômico com seu típico papel de
canastrão bem humorado. É certo que aparece pouca vezes, mas isso não o impede
de ser fundamental para o desfecho da história.
É válido lembrar que o papel da protagonista foi recusado por Angelina Jolie e Natalie Portman desistiu devido à sua gravidez. Após isso, Scarlett
Johansson, Rachel Weisz e Naomi Watts foram algumas das que tentaram o posto. Bullock foi a
escolhida e desempenhou muito bem seu trabalho. A atriz está em seu melhor momento
da carreira e não nega desafios. No filme, ela tem o timming perfeito e sua personagem evolui de acordo com os acontecimentos,
o que nos faz prender a respiração em cada um deles e nos aproximar ainda mais
da história. No mínimo uma indicação ao Oscar a ela está por vir.
Com roteiro simples e bem elaborado, Gravidade utiliza a tecnologia a seu favor e é o típico filme para
se assistir na melhor sala de cinema. Tem efeitos visuais excelentes, 3D que
funciona, toques de humor, suspense, drama e muita, muita tensão. O público
fica tão entretido, que mal percebe que estava ali durante uma hora e meia.
Afonso Cuarón
soube utilizar tudo aquilo que lhe foi oferecido para nos dar uma verdadeira
aula sobre o universo sem se esquecer do lado humano, esse tão frágil e ao
mesmo tempo forte diante do desconhecido.
PS: A culpa é dos Russos
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