Série Oscar 2014: Gravidade


Filmes ambientados no espaço nem sempre são fiéis aos acontecimentos reais. Até mesmo porque, pouquíssimas pessoas no mundo sabem o que realmente se passa lá em cima. No geral, sabemos que não há som, oxigênio, gravidade, nem a menor condição de sobrevivência  Apollo 13 de Ron Howard e 2001: Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick souberam retratar esses fatos com perfeição e se tornaram referências no assunto. Porém, devido às suas respectivas épocas, nenhum dos dois diretores possuía recursos tecnológicos o suficiente para deixar a obra impecável.

Agora, no auge da tecnologia, o diretor mexicano, Afonso Cuarón nos fez o favor de atualizar essa pequena lista de clássicos e nos entregar uma verdadeira obra prima.


Gravidade conta a história de três astronautas com a missão de fazer consertos externos no telescópio Hubble, e são atingidos por destroços provenientes de uma explosão de outro satélite por um míssil russo. Um deles morre, enquanto os demais ficam à deriva em órbita da Terra.

Essa sinopse descreve praticamente o que acontece na cena de abertura, que dura cerca de uns vinte minutos sem corte algum. Cuarón costuma fazer cenas longas e câmeras únicas, sem interrupção, e já nesta cena é possível identificar as primeiras características dele, que se tornam constantes durante o longa e aumentam a sensação de desespero e aflição.

O diretor procura também fazer bons jogos de cena ao mesclar planos gerais e primeiros planos, utilizando bem a relação entre a grandeza da mente humana e seu tamanho perante o universo, que praticamente o engole. Além disso, bons takes de câmeras girando dão o tom de instabilidade e causam uma certa agonia ao público. Chega a dar vertigem em alguns momentos.

Mas nada disso seria tão perfeito se não fosse a utilização da tecnologia. Os efeitos visuais são impressionantes e não deixa nada parecer artificial. Desde a construção do cenário, até a veracidade dos acontecimentos. Um dos exemplos é a falta de propagação de som durante as explosões no vácuo, retratada com maestria, ao som de uma trilha sonora única e fotografia impecável.

Outro grande ponto favorável é, pasmem, a utilização do 3D. Entre muitas utilizações desnecessárias que só fazem o ingresso ficar mais caro, eis que uma produção soube utilizar de maneira fantástica essa tecnologia até então explorada de maneira rasa. A sensação de profundidade existe e é um dos fatores determinantes para a imersão do público nesse ambiente tão inóspito. O elemento gravidade zero dá margens para que se tenha uma boa perspectiva e encante o espectador até mesmo nas cenas clichês em que algum objeto se aproxima da tela.

Um elenco de dois

Sandra Bullock e George Clooney são praticamente os únicos atores na trama, isso porque o terceiro astronauta tem uma participação nula e o restante são apenas vozes dos rádios de comunicação. Mas isso não quer dizer nada. Os dois são verdadeiros pilares e ajudam a dar consistência ao longa. Clooney é o responsável pelo alívio cômico com seu típico papel de canastrão bem humorado. É certo que aparece pouca vezes, mas isso não o impede de ser fundamental para o desfecho da história.

É válido lembrar que o papel da protagonista foi recusado por Angelina JolieNatalie Portman desistiu devido à sua gravidez. Após isso, Scarlett Johansson, Rachel Weisz Naomi Watts foram algumas das que tentaram o posto. Bullock foi a escolhida e desempenhou muito bem seu trabalho. A atriz está em seu melhor momento da carreira e não nega desafios. No filme, ela tem o timming perfeito e sua personagem evolui de acordo com os acontecimentos, o que nos faz prender a respiração em cada um deles e nos aproximar ainda mais da história. No mínimo uma indicação ao Oscar a ela está por vir.

Com roteiro simples e bem elaborado, Gravidade utiliza a tecnologia a seu favor e é o típico filme para se assistir na melhor sala de cinema. Tem efeitos visuais excelentes, 3D que funciona, toques de humor, suspense, drama e muita, muita tensão. O público fica tão entretido, que mal percebe que estava ali durante uma hora e meia.

Afonso Cuarón soube utilizar tudo aquilo que lhe foi oferecido para nos dar uma verdadeira aula sobre o universo sem se esquecer do lado humano, esse tão frágil e ao mesmo tempo forte diante do desconhecido.


PS: A culpa é dos Russos

Nota:

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