No ano passado, Hitchcock
mostrava ao mundo os bastidores e todos as dificuldades do diretor na
realização de um dos maiores clássicos do cinema, Psicose. O formato se repete também em Sete Dias com Marilyn, em que um assistente de produção no set de
The Prince and The Showgirl conta a história de uma semana ao lado da atriz
mais icônica dos últimos tempos, Marilyn Monroe.
EM 2014, A Disney lança seu filme sobre os bastidores de
um dos 25 maiores musicais da história, segundo a American Film Institute
(AFI): Mary Poppins.
O título nacional, Walt
nos Batidores de Mary Poppins, já diz tudo. É sobre o duelo travado entre o
poderoso Walt Disney e a frágil e teimosa P.L. Travers, criadora da babá Mary
Poppins na obtenção dos direitos de filmagem da história.
Enquanto Hitchcock
tentou retratar o diretor com um toque místico usando um pouco de ficção, este
coloca Walt Disney da mesma forma
que sempre foi visto: Como o cara mais feliz do mundo. Obviamente, não fosse a
própria Disney Pictures a responsável pelo longa, o realismo poderia ser maior
e dar foco naquilo que realmente era importante durante a negociação. O poder
do dinheiro imposto pelo todo poderoso dono da marca do Mickey.
Por outro lado, a preocupação em apresentar a autora de
Mary Poppins com perfeição foi grande. Segundo familiares, Travers morreu
sozinha, sem amar ou ser amada por ninguém, ou seja, uma mulher inglesa fria,
que apenas resolveu negociar os direitos por falta de dinheiro. Mas que relutou
muito e exigiu participar do processo criativo do roteiro. Não foi fácil pra
ninguém.
John Lee Hancock assina
a direção do longa. Suas características são muito parecidas com Um Sonho
Possível, seu filme anterior. O diretor procura focar no lado humano dos
personagens. Principalmente aquela que poderia ser apresentada como vilã. No
decorrer da trama, o espectador conhece a fundo a protagonista, não por suas
atitudes rígidas, mas pela divisão do filme entre o passado, feito por meio de flashbacks, e o presente. Mesmo
complementando enredo, algumas cenas contribuem para que o filme soe maçante,
porém, boa parte serve para compreender o porquê da resistência e opinião sobre
a forma com que a Disney trata sua obra: Um mero produto.
No entanto, quem faz com que o longa consiga uma certa consistência
é sua dupla de protagonistas. A escolha de Tom
Hanks para interpretar Walt Disney
foi a melhor possível tanto para o estúdio, quanto para o espectador. Não tem
ninguém melhor em Hollywood para fazer um papel tão chapa branca e bonachão quanto
Hanks. Seu carisma conquista qualquer um e o ator faz um excelente trabalho
dentro daquilo que lhe foi proposto.
Já o grande destaque é Emma Thompson no papel de Travers.
Sua caracterização é precisa e se justifica ao fim dos créditos, quando uma
gravação da autora real é reproduzida. Ela transmite o ar rabugento da inglesa
com perfeição. Maryl Streep ficou
tão inconformada pelo fato da atriz não ser indicada ao Oscar, que mandou um e-mail para a Academia reclamando. Não sei se era o caso de uma indicação em comparação
às suas concorrentes, mas se fosse não seria absurdo algum.
Como ficção, Walt
nos Bastidores de Mary Poppins funciona, mas como
reconstrução de fatos peca pela disneyficação
de sua essência e transforma uma história sobre uma negociação complexa em um
conto de fadas que beira o piegas. Se P.L.
Travers odiou Mary Poppins no
cinema, o que será que ela diria sobre esse?
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