Série Oscar 2014: Capitão Phillips


Boa parte dos filmes é inspirada em histórias reais. Principalmente acontecimentos envolvendo atentados, sequestros e acidentes de grande expressão. Exemplo disso é a adaptação futura sobre o caso dos mineiros chilenos presos em uma mina, ou se voltarmos no tempo, podemos nos lembrar de Voo United 93, que mostra o drama dos passageiros do avião sequestrado por terroristas em 11 de setembro.

Não podemos antecipar a qualidade do filme dos mineiros, mas Voo United 93 conta a história sem saber o que realmente aconteceu dentro do avião, inclusive chegou a ser indicado ao Oscar de melhor direção e edição e venceu o BAFTA nas mesmas categorias. O diretor foi Paul Greengrass, o mesmo de Capitão Phillips.
Capitão Phillips é adaptação do livro A Captain's Duty, escrito pelo Capitão Richard Phillips, que em 2009 teve seu cargueiro, o Maersk Alabama, sequestrado por piratas somalis.

Greengrass é um diretor que sabe intensificar suas histórias na hora certa, foi assim no já citado Voo United 93 e nos dois filmes da trilogia Bourne que dirigiu (Supremacia e Ultimato Bourne). Os longas começam de maneira lenta e pega o ritmo até fazer com que o público pare de respirar e só volte quando os créditos terminam. O filme em questão é exatamente assim.

As primeiras cenas nos apresentam os dois principais personagens do filme. De um lado, Phillips a caminho de mais uma viagem, preocupado com todos os tramites de uma embarcação, de outro o somali Muse, pressionado por pessoas maiores que ele, escolhe a dedo os integrantes de sua tripulação para sequestrar outro navio. A partir daí, as coisas acontecem até finalmente o encontro entre eles. E é aí que o ritmo começa a esquentar cada vez mais.

A instabilidade dos personagens é maior trunfo do roteiro. Duas pessoas frágeis obrigadas a tomarem decisões que poderão decidir o futuro deles e de sua tripulação. Greengrass acerta em cheio em dar ênfase nisso sem querer julgar um ou outro. O público fica encarregado disso, mas conforme o desenrolar da história acaba se rendendo à insegurança do garoto e percebendo que sua intenção nada mais era do que conseguir o que lhe mandaram fazer. Dentre sua equipe, o espectador cria antipatia por apenas um dos integrantes.

Um ponto interessante a se destacar é a forma bem amarrada do enredo. Apesar de ser uma adaptação, não sabemos exatamente o que aconteceu entre os piratas e o capitão e isso dá margem para que o filme não siga o tom de reconstituição do caso, e funciona ao adicionar um tom crítico à globalização e desigualdade.  Um  dos tripulantes do Maersk chegou a declarar que nada daquilo aconteceu, mas a verdade é que ninguém está assistindo esperando um documentário.

Já o elenco é muito bem escalado e faz ótimo trabalho. Tom Hanks interpreta Phillips de maneira formidável. Há tempos não via uma atuação tão boa do ator, talvez a ultima que me lembro foi em Naufrago. Seu desempenho foge dos heróis convencionais. O capitão possui medos, é inseguro e nunca passou por tal situação. Por outro lado, é calculista ao extremo e ótimo estrategista, o que ajuda na sua sobrevivência. Na cena final, temos uma entrega total de seu personagem, infelizmente (ou felizmente), as boas atuações dos outros atores o deixou de fora da indicação para melhor ator

Já o capitão do grupo somali é interpretado por Barkhad Abi. O ator estreou nas telonas com um trabalho fantástico e tem força para conseguir levar a estatueta de melhor ator coadjuvante. Muse é inexperiente, mas possui inteligência e determinação o suficiente para manter sua posição e dominar o navio cargueiro. Se a construção de Hanks como herói não é a convencional, a de Abi como vilão também não. Na verdade, os dois são muito parecidos: São pessoas comuns que precisam trabalhar de alguma forma para sobreviver, mas que possuem realidades diferentes.

Bem movimentado e explorando bem a situação geopolítica atual do mundo, Capitão Phillips é um ótimo filme de adaptação de uma história verídica. Paul Greengrass sai do padrão de fidelidade para entregar ao público uma trama forte e bem amarrada. Seu único pecado é cair no velho ufanismo americano no fim, mas quando se trata de Hollywood, não dá pra pedir muito quanto a isso.

Nota:

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