Série Oscar 2014: Clube de Compras Dallas


Cada filme vem com um objetivo. Existem os que querem passar uma mensagem, fazer rir,  entreter, divertir, emocionar, gerar renda, entre outros. Muitos vêm até com mais de uma intenção. Mas independente de tudo isso, a principal função do cinema é contar uma história.

E quando consegue fazer isso, meu amigo…

Clube de Compras Dallas se passa nos anos 80, no início da epidemia de AIDS, e, consequentemente o início das pesquisas de tratamento. Na história, Ron Woodrof é um eletricista sem limite algum em relação a sexo e drogas até sofrer um acidente no trabalho e descobrir que possui o vírus do HIV. O cowboy então, ao lado do travesti Rayno, passa a investir num clube de compras com medicamentos diferentes ao que o governo proporciona aos pacientes, o AZT, remédio que pode avançar o estado da doença.

Dirigido pelo canadense Jean-Marc Vallée, o longa adota a premissa de contar uma história de uma maneira quase documental, o que lembra um pouco o modo de direção dos irmãos Cohen.

Retratar uma época em que muitos achavam o homossexualismo a principal causa e inserir um heterossexual homofóbico soropositivo como protagonista é um tanto quanto ousado. Woodrof reluta a acreditar que possui o vírus, mas ao perceber os sintomas, procura incessantemente uma forma de tratamento com remédios ilícitos, já que o AZT chegou perto de levá-lo à morte.

O fato de incluir a pesquisa do medicamento no longa ajuda a explorar a realidade da época. A autorização do FDA como o único tratamento para a doença acompanha os personagens a todo o momento. Isso porque todo o processo de testes e aprovação estão incluídos na história, além do lobby da indústria farmacêutica para evitar que outros medicamentos entrem no mercado, o que induz os personagens a praticarem o contrabando.

Por incrível que pareça, a narrativa peca um pouco pelo fato de apenas querer contar uma história. Não existem tendências dramáticas, nem momentos de tensão ou reviravoltas. Tudo o que você está vendo no primeiro ato permanecerá até o fim de forma morna e com pouca intensidade. O público pode até achar repetitivo em certos momentos.

Porém, isso não é necessariamente um ponto determinante para a queda da qualidade do filme. O diretor consegue segurar a atenção do público durante quase duas horas. Pode não ser intenso como dito anteriormente, mas a carga do roteiro é forte e impressiona qualquer um pelas interpretações dos atores principais. E é nisso que eu queria chegar.

Quem se lembra de Christian Bale em O Vencedor, certamente irá ligar os pontos dos acontecimentos. Bale levou o Oscar de melhor ator pelo seu desempenho incrível e mudança física para o papel. E os velhinhos da Academia adoram isso. Com Matthew McConaughey e Jared Leto não será diferente.

Na briga de melhor ator, DiCaprio incomoda seu oponente em O Lobo de WallStreet, mas mesmo achando a obra de Scorsese superior à de Vallée, a atuação de McConaughey é impressionante e um verdadeiro marco em sua carreira. Inclusive, também possui uma ponta em O Lobo de Wall Street, que poderia até valer um prêmio de tão boa. Conhecido por ser um galã em Hollywood, parece que o ator passou a se importar mais com seu lado profissional. Sua transformação em Clube de Compras Dallas mostra o quanto ele amadureceu e deve crescer num futuro próximo.

Jared Leto é outro que dificilmente encontrará oponente à sua altura na categoria de melhor ator coadjuvante, e não é pra menos. Depois de ter se distanciado um pouco do cinema para se dedicar à musica, suas participações em filmes foram fracas, mas neste é totalmente diferente. No papel do travesti Rayon, Leto está irreconhecível, porém fantástico. Ele é responsável por mostrar a Wooldrof o outro lado e cria um laço de amizade com o cowboy já não mais homofóbico. A carga emocional do ator é forte e em algumas cenas nos impressionamos com o show de atuação.

Feito para os atores ganharem o Oscar, Clube de Compras Dallas é um bom exemplo de que não é necessário ter um roteiro mirabolante para ter qualidade. Não é o melhor filme do ano e pode até não empolgar alguns. Mas é inegável que Jean-Marc Vallée conseguiu contar uma excelente história de maneira nua e crua, doa a quem doer.

Nota:

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