Cada filme vem com um objetivo. Existem os que querem
passar uma mensagem, fazer rir,
entreter, divertir, emocionar, gerar renda, entre outros. Muitos vêm até
com mais de uma intenção. Mas independente de tudo isso, a principal função do
cinema é contar uma história.
E quando consegue fazer isso, meu amigo…
Clube de Compras
Dallas se passa nos anos 80, no início da epidemia de AIDS, e,
consequentemente o início das pesquisas de tratamento. Na história, Ron Woodrof é um eletricista sem limite
algum em relação a sexo e drogas até sofrer um acidente no trabalho e descobrir
que possui o vírus do HIV. O cowboy então, ao lado do travesti Rayno, passa a investir num clube de
compras com medicamentos diferentes ao que o governo proporciona aos pacientes,
o AZT, remédio que pode avançar o estado da doença.
Dirigido pelo canadense Jean-Marc Vallée, o longa adota a premissa de contar
uma história de uma maneira quase documental, o que lembra um pouco o modo de direção dos irmãos Cohen.
Retratar uma época em que muitos
achavam o homossexualismo a principal causa e inserir um heterossexual
homofóbico soropositivo como protagonista é um tanto quanto ousado. Woodrof
reluta a acreditar que possui o vírus, mas ao perceber os sintomas, procura
incessantemente uma forma de tratamento com remédios ilícitos, já que o AZT
chegou perto de levá-lo à morte.
O fato de incluir a pesquisa do medicamento no longa ajuda
a explorar a realidade da época. A autorização do FDA como o único tratamento
para a doença acompanha os personagens a todo o momento. Isso porque todo o
processo de testes e aprovação estão incluídos na história, além do lobby da
indústria farmacêutica para evitar que outros medicamentos entrem no mercado, o
que induz os personagens a praticarem o contrabando.
Por incrível que pareça, a narrativa peca um pouco pelo
fato de apenas querer contar uma história. Não existem tendências dramáticas,
nem momentos de tensão ou reviravoltas. Tudo o que você está vendo no primeiro
ato permanecerá até o fim de forma morna e com pouca intensidade. O público
pode até achar repetitivo em certos momentos.
Porém, isso não é necessariamente um ponto determinante
para a queda da qualidade do filme. O diretor consegue segurar a atenção do
público durante quase duas horas. Pode não ser intenso como dito anteriormente,
mas a carga do roteiro é forte e impressiona qualquer um pelas interpretações
dos atores principais. E é nisso que eu queria chegar.
Quem se lembra de Christian
Bale em O Vencedor, certamente
irá ligar os pontos dos acontecimentos. Bale levou o Oscar de melhor ator pelo
seu desempenho incrível e mudança física para o papel. E os velhinhos da Academia
adoram isso. Com Matthew McConaughey e Jared Leto
não será diferente.
Na briga de melhor ator, DiCaprio
incomoda seu oponente em O Lobo de WallStreet, mas mesmo achando a obra de Scorsese superior à de Vallée, a
atuação de McConaughey é impressionante e um verdadeiro marco em sua
carreira. Inclusive, também possui uma ponta em O Lobo de Wall Street, que poderia até valer um prêmio de tão boa.
Conhecido por ser um galã em Hollywood, parece que o ator passou a se importar
mais com seu lado profissional. Sua transformação em Clube de Compras Dallas mostra o quanto ele amadureceu e deve crescer
num futuro próximo.
Jared Leto é outro que
dificilmente encontrará oponente à sua altura na categoria de melhor ator
coadjuvante, e não é pra menos. Depois de ter se distanciado um pouco do cinema
para se dedicar à musica, suas participações em filmes foram fracas, mas neste
é totalmente diferente. No papel do travesti Rayon, Leto está irreconhecível,
porém fantástico. Ele é responsável por mostrar a Wooldrof o outro lado e cria
um laço de amizade com o cowboy já não mais homofóbico. A carga emocional do
ator é forte e em algumas cenas nos impressionamos com o show de atuação.
Feito para os atores ganharem o Oscar, Clube de Compras Dallas é um bom exemplo de que não é necessário
ter um roteiro mirabolante para ter qualidade. Não é o melhor filme do ano e
pode até não empolgar alguns. Mas é inegável que Jean-Marc Vallée conseguiu contar uma excelente história de maneira
nua e crua, doa a quem doer.
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