Série Oscar 2014: Philomena



Em 1952, ainda adolescente, Philomena Lee engravidou. Considerada uma pecadora por sua família em uma Irlanda conservadora e católica a jovem foi mandada para o convento de Roscrea, onde deu à luz um menino, a quem deu o nome de Anthony.

Aos quatro anos, o garoto foi separado de sua mãe e entregue a um casal norte-americano. A história se repete com cerca de 2.200 irlandesas e algumas ainda buscam seus filhos.
Inspirado no livro The Lost Child of Philomena Lee de Martin Sixmith e dirigido por Stephen Frears, o filme Philomena conta exatamente a trajetória do jornalista ao lado de Philomena, que busca saber onde está seu filho, Anthony.

Com toques de road-movie, o filme procura fazer uma mistura de melodrama envolvendo amor materno, religião e alguns toques de jornalismo. Porém, o diretor, que também colabora no roteiro, evita entrar nos clichês dramáticos ao contar a história. Ele nos surpreende a todo o momento sem precisar apelar para isso, já que a simplicidade é seu grande ponto.

Por ser baseada em fatos reais, não era necessária a adição de exageros em busca da comoção e me parece que tudo foi escrito com fidelidade ao livro, já que todos os pontos são muito bem encaixados, sem furos ou problemas de contexto. Frears soube conduzir a trama de maneira perfeita e dinâmica, sem entediar o público com momentos piegas.

Outro grande pilar desta história está a forma como a igreja católica é retratada, tanto nos anos 50, quanto em 2004, ano em que o filme aconteceu. A rigidez de antigamente é bem explicitada, assim como conservadorismo atual. Até mesmo o mais religioso espectador irá se espantar com a frieza dos acontecimentos.

No entanto, os dois personagens principais fazem o equilíbrio perfeito entre o religioso e o cético. Enquanto Martin, ateu declarado, se irrita com as atitudes dos que regiam o convento, Philomena faz de tudo para manter sua fé e continuar seguindo aquilo que lhe foi ensinado durante vida inteira, que mostra o quão importante aquilo foi para ela.

Apesar de tocar em assuntos um tanto quanto delicados, a abordagem com o homossexualismo também é bem colocado, mas de forma leve e natural, o que também acontece com o humor utilizado para aliviar o público. O tom ácido dos dois protagonistas ganha destaque em inúmeras cenas, com diálogos bem escritos e simples.

Porém, nada disso teria resultado se a escolha dos atores não fosse bem feita. Steve Coogan interpreta Martin com perfeição: Um jornalista com a frustração de perder seu emprego, e que busca, de alguma maneira, retomar sua carreira, que muda drasticamente ao encontrar Philomena, já que sempre evitou trabalhar com textos de “interesses humanos”, termo que diz muito sobre a trama.

Antes de falar sobre a intérprete de Philomena, é bom observar o modo como o jornalismo também é mostrado: De certa forma, soa tão frio quanto as atitudes das irmãs do convento. É estranho ver que histórias comoventes como essa pode se tornar um produto frio para quem a escreve ou edita. Martin mostra bem o quanto o lado profissional pode interferir no humano e vice e versa.

De volta às atuações, vamos à principal estrela do filme: Judy Dench, a eterna M de 007, faz o papel da protagonista de maneira fantástica. Uma personagem tocante e atuação memorável. Seu senso de humor britânico e sua maneira inocente de encarar as coisas dão ritmo ao filme, assim como suas cenas como a mãe desesperada atrás de seu filho. Posso dizer que já escolhi minha torcida no Oscar para melhor atriz.

Com uma excelente adaptação de roteiro, Philomena é uma das histórias mais bonitas do ano e dificilmente será superado. Tudo é surpreendente e a trama é uma verdadeira caixinha de surpresas, que vai se fortalecendo conforme vamos descobrindo o que realmente aconteceu. Não seria surpresa alguma se levasse o Oscar de melhor filme para casa. 

Nota:

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