Em 1952, ainda adolescente, Philomena Lee engravidou. Considerada uma
pecadora por sua família em uma Irlanda conservadora e católica a jovem foi
mandada para o convento de Roscrea, onde deu à luz um menino, a quem deu o nome
de Anthony.
Aos quatro anos, o garoto foi separado de sua mãe e entregue a um
casal norte-americano. A história se repete com cerca de 2.200 irlandesas e
algumas ainda buscam seus filhos.
Com toques de road-movie, o filme procura fazer uma mistura de melodrama
envolvendo amor materno, religião e alguns toques de jornalismo. Porém, o
diretor, que também colabora no roteiro, evita entrar nos clichês dramáticos ao
contar a história. Ele nos surpreende a todo o momento sem precisar apelar para
isso, já que a simplicidade é seu grande ponto.
Por ser baseada em fatos reais, não era necessária a adição de exageros
em busca da comoção e me parece que tudo foi escrito com fidelidade ao livro,
já que todos os pontos são muito bem encaixados, sem furos ou problemas de
contexto. Frears soube conduzir a trama de maneira perfeita e dinâmica, sem
entediar o público com momentos piegas.
Outro grande pilar desta história está a forma como a igreja católica é
retratada, tanto nos anos 50, quanto em 2004, ano em que o filme aconteceu. A
rigidez de antigamente é bem explicitada, assim como conservadorismo atual. Até
mesmo o mais religioso espectador irá se espantar com a frieza dos
acontecimentos.
No entanto, os dois personagens principais fazem o equilíbrio perfeito
entre o religioso e o cético. Enquanto Martin, ateu declarado, se irrita com as
atitudes dos que regiam o convento, Philomena faz de tudo para manter sua fé e
continuar seguindo aquilo que lhe foi ensinado durante vida inteira, que mostra o
quão importante aquilo foi para ela.
Apesar de tocar em assuntos um tanto quanto delicados, a abordagem com o
homossexualismo também é bem colocado, mas de forma leve e natural, o que
também acontece com o humor utilizado para aliviar o público. O tom ácido dos
dois protagonistas ganha destaque em inúmeras cenas, com diálogos bem escritos
e simples.
Porém, nada disso teria resultado se a escolha dos atores não fosse bem
feita. Steve Coogan interpreta Martin com perfeição: Um jornalista com a
frustração de perder seu emprego, e que busca, de alguma maneira, retomar sua
carreira, que muda drasticamente ao encontrar Philomena, já que sempre evitou
trabalhar com textos de “interesses humanos”, termo que diz muito sobre a
trama.
Antes de falar sobre a intérprete de Philomena, é bom observar o modo
como o jornalismo também é mostrado: De certa forma, soa tão frio quanto as
atitudes das irmãs do convento. É estranho ver que histórias comoventes como
essa pode se tornar um produto frio para quem a escreve ou edita. Martin mostra
bem o quanto o lado profissional pode interferir no humano e vice e
versa.
De volta às atuações, vamos à principal estrela do filme: Judy
Dench, a eterna M de 007, faz o papel da protagonista de maneira fantástica.
Uma personagem tocante e atuação memorável. Seu senso de humor britânico e
sua maneira inocente de encarar as coisas dão ritmo ao filme, assim como suas
cenas como a mãe desesperada atrás de seu filho. Posso dizer que já escolhi
minha torcida no Oscar para melhor atriz.
Com uma excelente adaptação de roteiro, Philomena é
uma das histórias mais bonitas do ano e dificilmente será superado. Tudo é
surpreendente e a trama é uma verdadeira caixinha de surpresas, que vai se
fortalecendo conforme vamos descobrindo o que realmente aconteceu. Não seria surpresa
alguma se levasse o Oscar de melhor filme para casa.
resenha muito bem escrita, como as outras... parabens Vini!
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