Poucos diretores possuem tamanha criatividade quanto Guilhermo Del Toro. O mexicano consegue criar universos que unem a fantasia com a realidade de uma maneira única, em que o público, ao bater os olhos nele, sabe quem o dirigiu. Reveja Hellboy, O Labirinto do Fauno e A Espinha do Diabo e provavelmente irão reparar que o estilo é o mesmo. Sem contar o ótimo Círculo de Fogo. Ou seja, tudo o que ele faz é acima da média? Bem...
A Colina Escarlate é seu novo longa, que estreou há uma semana nos cinemas e se passa no século XIX. Apaixonada pelo misterioso Sir Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), a escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) se casa e muda para uma mansão na Inglaterra que possui estranhos acontecimentos sobrenaturais, além de ter que viver com sua cunhada, Lucille Sharpe. Lá, ela descobre que Sir Thomas não é nada daquilo que ela imaginava.
Para começar, se você viu o trailer, esqueça. Não se trata de um filme de terror que ele tanto tenta vender. Até o começo dá pinta de que será, mas ao longo dele o espectador percebe de que aquilo é mais um romance do que qualquer outra coisa e talvez seja isso que prejudique o filme. Não pela história em si, mas pela falta de ritmo.
Imagine-se indo ver um show de rock, mas a banda principal atrasa e toda vez que alguém aparece no palco para afinar a guitarra, você acha que é a hora, mas é apenas um roadie qualquer. Sim, é essa a sensação que A Colina Escarlate nos deixa em sua primeira metade. Ele passa pouco mais de uma hora oscilando entre o alto suspense e o romance meloso, no qual parece mais uma novela de época. No entanto, na hora em que engata, pode-se considerar o início do show.
A história em si não é a das mais criativas, mas estamos falando de Del Toro, e claro que por isso há elementos que fazem o ingresso valer a pena, a começar pelo visual. O diretor adora usar cores e mesclar o quente e o frio ao mesmo tempo. Uma mansão caindo aos pedaços, cujo o solo da colina mescla o branco da neve com o vermelho do barro é o maior exemplo disso. Sem contar o ótimo figurino, maquiagem e fotografia. Tudo é muito bonito visualmente.
No entanto, há também o elemento principal, ou o que deveria ser, que é o sobrenatural que assola o longa. Na primeira parte do filme, aquela que eu disse ser bem morna, o público se pergunta qual a utilidade desses elementos aparecerem de maneira esporádica. Basicamente, é isso que segura o filme por um bom tempo: o fator mistério. Perguntas não faltam ao espectador sobre o que pode acontecer e o porquê do comportamento dos personagens.
Claro que alguns pontos são previsíveis, mas aos poucos a história vai se revelando até chegar ao nível máximo de tensão, que é quando a coisa começa a esquentar e não te deixa piscar. Méritos ao diretor, que soube dar um bom desfecho à sua maneira, e sem perder o fio da meada.
O trio que compõe os protagonistas executam bem o papel. Tom Hiddleston, Mia Wasikowska e Jessica Chastain não estão primorosos, mas fazem um bom trabalho e não influenciam diretamente no resultado final.
Inconstante porém de estrutura coerente e esteticamente bem feito, A Colina Escarlate peca mais pela sua ação comercial de parecer um filme de terror, quando na verdade é um romance com algumas pitadas de horror e suspense. Guilhermo Del Toro soube bem juntar os três modos de maneira criativa mas está longe de ser seu melhor filme. Ainda assim, mesmo quando erra, o mexicano se mostra estar, sim, acima da média...