O cinema americano é conhecido em todo o mundo. São inúmeras produções revolucionárias de peso, com recordes e mais recordes de bilheterias. E, como todo mundo sabe, acontece um evento para premiar os melhores daquele ano. Como a Academia não podia deixar de lado filmes estrangeiros que também fizeram sucesso, eles criaram uma categoria para premiar apenas filmes feitos em outras línguas que não inglesa.
Obviamente existem algumas exceções que acabam sendo indicadas às categorias de menor expressão,
pouquíssimas produções são lembradas para melhor filme, diretor ou roteiro, mas quando isso acontece, pode ter certeza que é um daqueles que você nunca mais vai esquecer. Não é nenhuma surpresa que Amour, filme dirigido por Michael Haneke - diretor premiado em Cannes com Violência Gratuíta e A Fita Branca - esteja presente entre os candidatos para ser melhor filme estrangeiro de 2013. O choque, no entanto foi vê-lo como um dos indicados a melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro original e outras duas categorias. O que um filme francês estaria fazendo em meio a concorrentes tão aclamados como Lincoln, de Spielberg, As Aventuras de Pi, de Ang Lee e Os Miseráveis, de Tom Hooper?
Amour se passa a maior parte do tempo dentro de um apartamento, onde um casal de velhinhos, Georges e Anne seguem uma vida apaixonada à base de música erudita e arte, praticamente ignorando o peso de suas respectivas idades. Até que um dia, Anne sofre um derrame mudando aquele ambiente elegante do casal, para um completamente doloroso e decadente.
Seria impossível começar a falar do filme sem citar as atuações fantásticas dos atores levando em consideração suas idades. Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva são, de longe um dos casais mais intensos que já assisti. A ligação entre os dois em cena nos faz pensar serem marido e mulher na vida real, como se fosse aquele casal de velhinhos que você conhece ou com certeza já viu em algum lugar. Emmanuelle Riva, é indicada ao Oscar de melhor atriz com todo o mérito. Sua atuação perante à situação é incrível, não há nada melhor em um ator ou atriz do que fazer com que o público tenha a impressão de que seu personagem seja real. Já Trintignant, tem uma atuação do mesmo nível. A cada ano, pelo menos um filme ou ator é injustiçado, e, em 2013 Trintignant é o da vez, infelizmente, pois seria um ator que encararia qualquer indicado da categoria de igual para igual.
Haneke cria um estado de tensão imensurável, sua maneira forte e simples de retratar a situação é de tirar o chapéu. O clima pesado não é falado, nem explicado ao público, ele apenas surge em dramas silenciosos, roupas acinzentadas e cômodos vazios e escuros. De maneira sutil, o diretor nos apresenta todos os sentimentos envolvidos na trama, como o fato da filha do casal extremamente distante, mas que dada à situação, decide voltar e se preocupar com a família, ou até mesmo a vergonha dos protagonistas em relação à doença e seus respectivos estados, sejam eles físicos ou espirituais.
O desfecho do filme já é apresentado no começo e explicitado antes da metade. Mas em momento algum, a trama aparece previsível, muito pelo contrário, a cada momento vemos uma atitude diferente dos protagonistas, que vão se degradando com o decorrer da história, a mulher por sua doença, e seu marido por não saber mais como lidar com a situação, que, em determinado momento faz com que o conceito de certo e errado seja rompido. Sabemos como tudo isso vai acabar, mas questão é como, e isso posso lhes dizer que é um verdadeiro golpe em nossas almas.
Amour, com certeza é um daqueles filmes que ficarão em nossas memórias para sempre, como também pode ser o divisor de águas entre os estrangeiros. Suas cinco indicações, são a prova de que os jurados da academia estão mais abertos às culturas de outros países. E com razão, pois esse é o exemplo de filme que nos mostra que não é preciso bilhões de dólares para conquistar o público, e, sim sua história, seja ela feita dentro de um apartamento, ou em meio a um campo de batalha. O filme pode não nos trazer nada de novo em relação ao tema, mas é sem dúvidas uma forma esmagadora de nos apresentar uma realidade que estamos sujeitos a viver. É a prova de que o amor é o um dos únicos sentimentos que ultrapassam os limites do que é moral ou imoral.
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