O ano era 2009, James Cameron batia recordes e mais recordes com Avatar, uma de suas mais grandiosas produções. Era certo que levaria todos os prêmios possíveis, principalmente em suas nove indicações ao Oscar do ano seguinte incluindo melhor filme e direção. Isso tudo aconteceria se não fosse um outro filme.
Esse mais discreto e mais barato (Custou apenas U$ 15 milhões, enquanto
Avatar teve um orçamento de U$ 500 milhões): Guerra ao Terror, filme dirigido pela ex-esposa de Cameron, Kathryn Bigelow, que conta o combate ao terrorismo no Iraque e levou quase todos os prêmios na cerimônia britânica BAFTA, incluindo melhor filme e diretor, e, logo em seguida foi o principal vencedor da noite do Oscar, levando seis estatuetas de nove indicações incluindo as mesmas categorias citadas no BAFTA, enquanto seu marido se contentava com apenas três, todas de menor expressão.Três anos depois, Kathryn Bigelow aparece mais uma vez entre os indicados a melhor filme, dessa vez com os holofotes apontados para ela, e, favoritismos à parte, não chega para passar vergonha.
A Hora Mais Escura é um filme de ficção com a essência de um documentário, que conta a história de Maya, uma agente da CIA que é enviada ao Paquistão para perseguir pistas e informações do paradeiro de Osama Bin Laden.
Assim como Guerra ao Terror, o filme também utiliza a mesma fórmula de apresentar o acontecimentos de forma real, não no sentido verídico, mas no de passar a verdadeira tensão que há dentro de cada integrante das forças americanas, fazendo com que certas cenas pareçam reais. Tão reais, que temos a impressão de estarmos ali, presentes em todas as torturas em meio aos problemas burocráticos que implicam no travamento da operação.
Se essa realidade é perceptível, mais um mérito da diretora, que com sua parceria com o roteirista Mark Boal, constroem uma trama que nos fazem refletir se aconteceram ou não. Além do fato de nos mostrar como realmente funcionam certas decisões da CIA e do Governo Americano.
Outro fato interessante da película é o fato de Bigelow poupar o público de dramas infantiloides, o que é comum em filmes baseados em fatos reais para dar um apelo maior à trama. No inicio, vemos uma tela preta com escutas de ligações das vítimas do atentado de 11/09, uma forma inteligente de nos poupar do terror visual, mas não do emocional, além disso nada ali é ficção, tudo que está lá aconteceu, são fatos, no entanto não sabemos se os personagens tem filhos, são casados, muito menos quais são seus respectivos sonhos.
Todos os seus 157 minutos são completamente voltados profissionalmente ao que interessa ao filme e a nós: Matar Osama Bin Laden. Claro, existem certos momentos em que há perdas e danos que acabam nos tocando, mas são apenas frutos do terrorismo que realmente aconteceram.
Um dos alicerces de todos esses méritos, além de Bigelow e Boal, é Jessica Chastain. À frente das câmeras a atriz consegue transmitir tudo aquilo que a diretora quer. Não sabemos ao certo se Maya é apenas uma nacionalista que procura vingança, ou uma workaholic, mas é fato que está determinada a completar seu trabalho, ligar as imagens iniciais apresentadas a nós e estabelecer uma perseguição em busca de um final, subjetivamente feliz, e é com essa premissa que sua personagem evolui, sua presença em sessões de tortura são essenciais para seu crescimento e amadurecimento.
Junto à Chastain vemos um conjunto da obra magistral em matéria de elenco desde o superior de Maya, que vive sob constante pressão da protagonista para que algo seja feito mesmo que seja por meio de suposições, até mesmo os soldados que vão realizar a operação. Quando são informados sobre qual é o alvo, imediatamente vemos e compartilhamos suas angústias, sabem(os) que é arriscado e que pode não dar certo, mas ao mesmo tempo, sabem que em poucas horas, seus nomes podem estar escritos na história do mundo.
Mesmo o filme soando longo demais e alguns momentos serem completamente parados e burocráticos, seu ritmo é intenso e nenhuma cena é descartável, todas estão ali por um propósito. Além do fato da diretora optar por fazer com que a participação dos presidentes dentro da operação seja praticamente nula, ou nos fazer parecer. Suas respectivas imagens até aparecem cena ou outra, mas apenas para ilustrar e não nos deixar esquecer que mesmo não tendo participação ativa, o presidente está ali.
Inicialmente, muitos diziam que sua moral em Hollywood eram provenientes de seu matrimônio com James Cameron, mas Kathryn Bigelow mostra sua habilidade na direção e se faz parecer à vontade em filmes de guerra, mais especificamente em temas atuais, algo ainda pouco explorado na sétima arte.
Tecnicamente impecável, A Hora Mais Escura é um filme que não sabemos ao certo se é completamente nacionalista e tendencioso, ou se é uma obra-prima que põe em pauta uma discussão sobre a construção dos fatos. Se a trama deixa perguntas sem respostas e dúvidas sobre a veracidade dos acontecimentos, é porque tanto a diretora, quanto o roteirista estão na mesma situação que todos os cidadãos do mundo e jamais saberão o que de fato aconteceu.
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