Cá entre nós, depois de "GoldenEye", a franquia 007 demorou mais de uma década para voltar a ter um filme que fizesse o público reverenciar James Bond. Tá certo, "Cassino Royale" é bom, mas não chega nem perto do que foi "Operação Skyfall", um dos melhores longas do maior agente de todos os tempos. Tudo nele é bom. O filme retoma todos elementos clássicos de uma maneira moderna e dá indícios de que uma nova era Bond irá surgir. Três anos depois, eis que a sequência tão aguardada é lançada e...será?
"007 Contra Spectre" parte basicamente de onde "Operação Skyfall" acabou. Após os acontecimentos trágicos do longa anterior, Bond passa a buscar ainda mais sobre seu passado e chega até uma organização secreta internacional, liderada por um homem misterioso (Christopher Waltz) e responsável por boa parte dos acontecimentos passados, até mesmo com ligações de sua infância.
Sim, as comparações com o anterior são inevitáveis. Mas antes de mais nada, é necessário destacar o ótimo trabalho de Sam Mendes. O diretor britânico conseguiu fazer com que os quatro filmes da era Craig se interligassem e mais, fez o novo 007 ser uma verdadeira sequência, ou seja, você tem que assistir "Operação Skyfall" para entender este novo.
A atualidade do roteiro se mantém, se anteriormente o assunto era terrorismo digital, agora é a substituição de mão de obra humana por tecnologia. M (Ralph Fiennes) faz de tudo para reconstruir a credibilidade do MI6 enquanto enfrenta o governo numa queda de braço a fim de evitar que o programa 00 seja substituído por drones. Max, um novo coordenador da inteligência britânica é quem dá aval ao projeto.
Mais uma vez, o foco no lado humano de Bond é bem colocado. De uma vez por todas ele quer saber sobre seu passado. No entanto, isso acaba sendo deixado para trás na metade do filme, quando tudo começa a se revelar e é aí que está o defeito da trama: São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que não há como dar ênfase em uma coisa ou outra, tudo ocorre numa mesma intensidade (grande, diga-se de passagem). Pelo lado ação, é ótimo, mas isso pode fazer com que o público se perca em alguns momentos.
Se em Skyfall alguns elementos clássicos já tinham sido inseridos, em Spectre os fãs podem comemorar. Isso porque diversas referências aos filmes mais antigos são colocadas no filme, inclusive com a volta da organização Spectre, presente em alguns longas da franquia. Esqueça de vez a Quantum (\o/), a organização do anel de polvo está de volta, 007 também.
Christopher Waltz é o responsável pelo papel do vilão do filme e o desempenha muito bem. O ator austríaco se dá bem em papéis desse gênero. Mas diferente da excentricidade do Hanz Landa em "Bastardos Inglórios", este seu vilão é um tanto quanto mais frio, sereno e calculista. Te lembrou alguém, caro fã? (SPOILER ALERT ou não) Só faltou o gato.
Dave Bautista também está no filme como um vilão secundário daqueles clássicos grandalhões fortes. Suas ótimas sequências de ação ajudam muito no entretenimento.
Outro grande acerto foi a escolha das Bond Girls, até então deixadas em segundo plano nos dois anteriores. Monica Bellucci e Léa Seydoux se saem perfeitamente bem quando o assunto é beleza. No entanto, Bellucci faz somente uma ponta, que poderia ter sido melhor aproveitada. Já Seydoux, bom, digamos que ela é tão importante quanto Eva Green em "Cassino Royale", mais do que isso, é spoiler. Além disso, a francesa tem se mostrado uma ótima atriz e neste ela faz um grande trabalho.
Quanto ao restante do elenco, todos fazem muito bem seus papéis. Naomi Harris, Ralph Fiennes e Ben Whishaw voltam aos seus personagens e servem como um apoio, algumas vezes cômico a Daniel Craig, esse que mais uma vez mostra que é um verdadeiro James Bond. O ator, que já disse algumas vezes estar cansado de fazer o personagem, segue sendo o grande pilar desta era com doses de boas cenas de ação e bons diálogos, mas desta vez um tanto quanto mais sério e com pouco sarcasmo.
Um ponto negativo fica por conta do clipe de abertura. Ele contribui, sim, para que o público se situe no enredo e é até bem produzido, feito de uma maneira mais garbosa, como antigamente. Mas a música tema, "Writing's On the Wall" de Sam Smith, mais precisamente sua voz (que é excelente, sem dúvidas), não combina tanto. Particularmente, eu tenho preferência por vozes femininas nos temas de 007. Questão de gosto.
Ao fim de tudo, "007 Contra Spectre" não supera Skyfall, e nem deveria. Sam Mendes sabe que trouxe James Bond a ativa de vez em 2012, foi a reinvenção da roda. Dali em diante, seria tudo uma questão de manter a regularidade e amarrar as pontas, coisas que fez com sucesso. Além de dar alguns agrados aos fãs com referências e elementos clássicos. Agora, o que o futuro reserva à franquia 007 ninguém sabe, e é bom você preparar seu Dry Martini para esperar. Batido, não mexido, claro.


Nenhum comentário