Série Oscar 2015: Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância)



Nos últimos anos, diretores mexicanos tem conquistado um espaço maior na indústria de Hollywood. Alfonso Cuarón é um dos que não me deixa mentir. O diretor foi o primeiro latino-americano a levar para casa o Oscar de Melhor Diretor com Gravidade. No entanto, Alejandro Gonzales Iñárritu chegou primeiro nesse patamar e foi o primeiro do país a receber indicações ao Oscar em 2007, com Babel. Foram sete no total, incluindo as principais categoriasmas levou apenas a estatueta de Melhor Trilha Sonora Original. 

Oito anos depois, Iñárritu volta a levar uma cacetada de indicações ao Oscar, e desta vez, parece que veio para levar boa parte delas. 

Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância) conta a história de Riggan Thomson (Michael Keaton), um ex-astro de Hollywood cujo seu único papel de sucesso foi o personagem do título, um super-herói popular. Ao recusar fazer a terceira sequência do filme, Thomson vê sua carreira desmoronar até o ponto de dirigir e estrelar uma peça na Broadway contando apenas com sua popularidade. 

A escolha do ator é um tanto quanto sugestiva para o longa, tendo em vista que Keaton, após fazer Batman, O Retorno, teve pouquíssimo papéis de destaque no cinema. Sim, é mais ou menos com esse segmento sarcástico que o filme se desenrola. A metalinguagem faz parte do show e é um dos grandes trunfos do roteiro bem produzido. 

Uma dura crítica à indústria do entretenimento, seja ela no cinema ou até mesmo no teatro, que respinga até mesmo na mídia, essa determinante para o sucesso de algum filme ou peça. Um roteiro bastante criativo e ousado. Dificilmente vemos um filme que bata tão forte na indústria alcançar uma notoriedade. Inclusive, uma bela cutucada em filmes de super-heróis, o gênero do momento. 

Porém, é no quesito técnica que o diretor consegue seu maior feito. Dentre diversos questionamentos a respeito das indicações ao Oscar, uma delas é o fato de Birdman não estar incluso na categoria de Melhor Montagem. O filme todo é editado para que o público pense que ele foi rodado em apenas um take. Um plano sequência impecável que faz o espectador crer que ele está ali, ziguezagueando pelos bastidores da peça, espiando cada canto, ou até mesmo acompanhando Riggan em toda sua trajetória. Não fosse essa técnica, muito provavelmente o filme não tomaria as devidas proporções e passaria a ser um produto bom, porém comum. 

Já os diálogos inteligentes e ácidos fazem com que os personagens tomem sua forma de acordo com o andamento da trama em uma direção impecável mesclado a um grande elenco. Edward Norton faz o papel do ator em alta e egocêntrico. Emma Stone, interpreta a filha isolada de Riggan. Ambos merecem suas indicações a Melhor Ator/Atriz Coadjuvante. No entanto, dificilmente levarão para casa, tendo em vista os concorrentes. Michael Keaton, por sua vez, entra na briga para levar na categoria de Melhor Ator. Seu trabalho está incrível no papel do protagonista. 

Tecnicamente impecável, com ótimas atuações, direção fantástica e roteiro criativo, Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância) possui um ritmo louco, tenso e sereno. É mezzo Finchermezzo Aronofsky  ao mesmo tempo em que é Iñàrritu por completo. É o típico filme que te faz sair da sala do cinema embasbacado, sem reação e te faz esquecer o mundo aqui fora por duas horas para te inserir nos bastidores do mundo real do entretenimento. No tempo em que os super-heróis estão em alta, é sempre bom ressaltar que, ao menos no cinema, eles não vivem para sempre.


Nota:
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