Seja sincero. Você já tinha
ouvido falar dos Guardiões da Galáxia
há alguns anos atrás? Pois é, acredito que até mesmo boa parte dos fãs da
Marvel sequer lembrava o grupo criado em 1969, que caiu no esquecimento e nunca teve o prestígio que Vingadores,
Quarteto Fantástico ou X-Men tiveram.
Em 2008, em mais uma de suas tentativas de
conquistar novos leitores, a Marvel
Comics resolveu trazer de volta a equipe reformulada, em que Peter Quill recruta alguns heróis para
defender a galáxia. A aposta deu tão certo que em 2012 chegou a vez da Casa das
Ideias levar a saga para outras mídias, a começar pelo cinema.
Em Guardiões da Galáxia, Peter Quill é um humano que é abduzido da Terra quando criança e
cresce ao lado de um grupo de ladrões, que o faz seguir a profissão, até o dia
que rouba algo que é desejado por Ronan, o acusador, e pelo temido Thanos.
Após uma confusão envolvendo o objeto tão
desejado, um orbe, Peter acaba preso. No presídio, começa uma amizade com Gamora, Drax, Groot e Rocket.
Mais uma vez é necessário lembrar aos fãs de que
se trata de uma adaptação, não uma releitura das HQ's. E é exatamente isso que
faz o filme ser genial: A originalidade.
Enquanto Os
Vingadores buscou dar ênfase aos heróis trabalhados em filmes solos e dar
destaque maior para uns, esse acerta ao tratar todos de maneira igual, como uma
verdadeira equipe deve ser. Não houve projeto para apresentar os integrantes
individualmente, pelo contrário, praticamente foram jogados juntos no colo do
espectador de maneira objetiva. O que sabemos deles é aquilo que os guardas
descrevem quando chegam à prisão.
Gamora é filha adotiva de Thanos, que a usa
praticamente como uma arma. Drax é um prisioneiro que busca vingança contra
Ronan por ter matado sua família. Groot é uma espécie de árvore gigante e
animada, e Rocket é um guaxinim que sofreu experimentos científicos. Todos eles
têm algo em comum: O orbe lhes interessa por algum motivo e nenhum deles está
disposto a abrir mão disso. No entanto, conforme a convivência aumenta, eles
logo se veem trabalhando em equipe.
É praticamente inevitável fazer comparações entre
os filmes da própria Marvel, até porque são todos muito parecidos em termos de
estrutura. Mas esse pode ser dizer que surge como uma exceção. O grande trunfo
do estúdio foi entregar uma trama completamente descompromissada e divertida. O peso de agradar os fãs xiitas diminui consideravelmente e contribui muito no
resultado final, o que acaba sendo muito mais leve assistir como entretenimento puro. Uma
ficção cientifica clássica e muito divertida.
O diretor e também roteirista James Gunn (Seres Rastejantes) é quem toma a frente do projeto em seu melhor
trabalho na carreira. Gunn procura fazer referencias pop durante toda a trama e
nos lembra de muitos clássicos do cinema em termos de inspiração, como Star
Wars e Indiana Jones, além de inúmeras piadas que incluem Footlose, Kevin Bacon,
metáforas e uma ótima sobre Jackson
Pollock, que ditam todo o ritmo da história. O humor é muito mais destaque
do que nos anteriores e mesmo assim não perde a seriedade da trama, que possui
momentos de drama, romance e tudo aquilo que se tem direito.
As atuações também não fazem feio. Chris Pratt (A Hora mais Escura) faz ótimo papel como Peter Quill, além de Zoe Saldana (Avatar) como Gamora e David
Bautista como Drax, que também desempenham ótimos trabalhos. No entanto,
são as duas criaturas criadas digitalmente que se tornam o grande destaque
entre os personagens. Vin Diesel
trabalha pouco ao dublar o grandalhão Groot, afinal, ele só sabe dizer uma
frase, mas mesmo assim é perfeito e faz com que sua dupla com Rocket seja uma
atração à parte. O guaxinim (que nem sabe o que é um guaxinim, em uma ótima
sacada) é praticamente o Tony Stark
dos Guardiões. Seu sarcasmo e carisma andam lado a lado graças à excelente
dublagem de Bradley Cooper. Não vai
ter nenhum que saia da sala de cinema sem tecer um elogio ao trabalho feito
pela produção. É impecável.
Sim, deu pra perceber que o filme é realmente
muito bom, mas tudo isso ganha uma proporção maior pelo simples fato da trama
inteira ser acompanhada de uma trilha sonora fantástica. Como Peter nasceu nos
anos 80 e na Terra, uma das coisas que o aproximava de sua mãe eram as músicas
que ela ouvia e colocava em uma fita K7 para ele ouvir em seu walkman. São
diversos clássicos como David Bowie,
The Runaways, Marvin Gaye e Jackson 5.
Não é novidade ter música boa em filmes Marvel, mas sem dúvidas essa é uma das
melhores trilhas dos últimos tempos. É de um sincronismo impressionante.
Para os fãs de carteirinha tanto da franquia de filmes
da Marvel, quanto das HQ's a cereja
do bolo fica por parte dos mínimos detalhes. Como todos sabem, eles adoram
colocar alguns easter-eggs no meio das cenas. É bom prestar bastante
atenção na cena do Colecionador,
pois é onde se encontra o maior número de detalhes escondidos possíveis, além
de uma ótima cena pós-créditos.
Com ótimo roteiro, bons personagens e excelente
trilha sonora, Guardiões da Galáxia
é outra aposta ousada bem sucedida da Marvel. Não reinventa a roda, nem inova o
gênero de ficção científica, e é por isso que deu tão certo. A Casa das Ideias
conseguiu fazer um Filme B de clima old school com orçamento de blockbuster e bate de frente com Os Vingadores em termos de qualidade,
se tornando um dos principais da franquia. A era de ouro de Stan Lee e sua turma é tão duradoura,
que podemos esperar coisas boas até no mínimo 2017, quando estreia Guardiões da Galáxia 2. Falta muito?