No Oscar de 2013, O Lado Bom da Vida, dirigido por David
O. Russell, foi o único a ser indicado nas principais categorias da
premiação: Melhor filme,
diretor, roteiro, atores e atores coadjuvantes. Na minha resenha disse que ele
era bom, mas superestimado. Tanto que levou apenas uma estatueta. Neste ano, o
diretor repete o feito com Trapaça,
que conta de novo com Jennifer Lawrence,
Bradley Cooper e Robert DeNiro, ambos indicados na obra anterior.
Mas o
porém é que a história se repete também no quesito superestimado.
Trapaça levou boa parte dos prêmios pelo
qual foi indicado e conta a história de dois vigaristas que, ao serem pegos,
são forçados a colaborar com um agente do FBI que quer derrubar uma série de
políticos e mafiosos. Sim, a história é bem simples e até um pouco clichê,
também roteirizada por Russell.
O
diretor levou para casa o Globo de Ouro
de Melhor filme de comédia/musical, desbancando O Lobo de Wall Street, o que é até certo ponto esquisito, já que as características do filme lembram muito a obra de Martin Scorsese, porém, enquanto o experiente diretor tem fôlego
para segurar a platéia por três horas, Russell não faz o mesmo em duas. E esse
é o maior erro cometido por ele.
O longa
começa já mostrando ao público a que veio com uma cena cômica, no entanto, o
enredo demora para pegar no tranco. Claro, quando ele pega, você mergulha nos
anos 70 embalado por clássicos do rock e, a partir do primeiro quarto de filme,
a base toda é sustentada por reviravoltas, bons diálogos e dúvidas que vão até
o fim. Existem cenas desnecessárias, sim, que não interferem diretamente no
desfecho.
As
comparações entre Trapaça com as
obras de Scorsese felizmente não ficam apenas na falta de folêgo, mas nos
principais elementos que mais parecem uma homenagem ao diretor italo-americano:
Os personagens pouco éticos e narrações bem humoradas, a edição, e até mesmo
algumas técnicas de montagem. David O. Russell transmite bem essas
características de uma maneira menos violenta e crua, e um tanto quanto mais
cômica. Seu senso de humor usado nas cenas já vem desde seu filme anterior,
contudo, é na direção de atores que ele conquistou toda essa notoriedade.
Um elenco memorável
Primeiramente,
a escolha do elenco por si só já poderia se esperar algo grandioso, mas o
diretor conseguiu extrair aquilo que há de melhor em cada um deles.
Não há
exceção na hora de falar sobre a atuação e pode até parecer injusto se apontar
um destaque, que na minha opinão foi, de longe, o irreconhecível, gordo e
careca Christian Bale, que já havia
trabalhado com o diretor e levou o Oscar de melhor ator coadjuvante em O Vencedor. Ele conduz a trama de uma
maneira fantástica e todos que contracenam com ele aparecem bem.
Bradley Cooper é outro que se impõe no longa.
Seu personagem lembra um pouco o de O
Lado Bom da Vida, um homem um tanto quanto inseguro, enquanto o ator se
mostra cada vez mais seguro no modo de atuar. São poucos atores do estilo dele
que conseguem mergulhar no personagem, o que da uma diferença gritante no
resultado final.
Na ala
feminina, a dupla é mais badalada que a masculina, mas nenhuma das duas me
convenceu para levar a estatueta neste ano. Jennifer Lawrence talvez, mas pela falta de concorrência. Devo
admitir que ela é uma excelente atriz e sua versatilidade nos papéis é
incrível. Podemos esperar algo a mais em todos os personagens que ela fizer.
Mas o
que eu não entendo é todo esse alvoroço em cima da Amy Adams. Ok, ela está impecável e faz um papel importantíssimo,
mas não é merecedora de Oscar de Melhor Atriz, Sandra Bullock, por exemplo faz um trabalho bem mais elaborado em Gravidade e suas outras concorrentes
são nada mais, nada menos que Cate
Blanchet por Blue Jasmine e Judy Dench por Philomena e claro, Maryl
Streep que não pode faltar. O favoritismo é de Adams, injustamente, assim
como Lawrence no ano passado.
Superestimado,
mas bem dirigido e sustentado pelas excelentes atuações, Trapaça é um ótimo filme, mas está longe de empolgar. Provavelmente
terá mais sorte esse ano na premiação, com dez indicações incluindo as citadas
no começo do texto. David O. Russell não inventou a roda e, assim como no seu
filme anterior, caiu em certos clichês que esfriam o enredo batido. Sabe
aqueles filmes divertidos sobre roubos, FBI e vigaristas que você alugava aleatoriamente num sábado a tarde? Esse é um deles.
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