Martin Scorsese é um homem da máfia. Não, calma, apesar de ter crescido em Little Italy - um bairro perigoso de Nova Iorque - o diretor, felizmente, não seguiu a carreira no mundo do crime. Melhor, criou inúmeros personagens e ambientes inspirados naquilo que viu durante toda sua infância no pequeno bairro italiano. Mafiosos italianos, bandidos de rua, donos de cantina, entre outros.
E,
depois de ter explorado a máfia italiana e irlandesa nos EUA, eis que seu novo
lançamento traz uma fórmula nova: Mostrar a máfia americana com uma comédia.
O novo longa de Martin Scorsese
relembra um pouco uma de suas obras: Os Bons Companheiros, em que um novato
entra para a máfia e adquire experiência o suficiente para montar seu próprio
negocio. Com esse não é diferente. Belfort começa a trabalhar em uma corretora
como um funcionário comum, no entanto, após uma conversa esclarecedora com seu
chefe (em uma ótima ponta de Matthew McConaughey) e ver a crise acabar com a empresa em que trabalha, ele
decide montar sua própria empresa com figurões de seu bairro, sem experiência alguma.
A trama de três horas de duração
parte para uma comédia pra lá de negra sobre o lado podre de Wall Street, bem
diferente da visão que Oliver Stone deu em Wall Street, 1 e 2. O diretor deixa
todo o pudor de lado para contar sua história. Mulheres nuas e uma quantidade
exorbitante de “fucks” (506 no total, temos um recorde!) aparecem com a maior naturalidade do mundo. “Isso não é normal, no mundo real, mas quem disse que eu
quero viver nesse mundo?”, diz Jordan Belfort a seu pai, quando é criticado por
gastar cerca de U$ 26 mil em um jantar e mais uma boa grana em
“entretenimento”, se é que me entendem.
E é exatamente isso que Scorsese tenta mostrar: aquele lado negro do tal sonho americano. Aquele mundo que só
quem vive nele sabe o que acontece, e olhe lá. Alguns críticos lá fora disseram
que o filme bajula a corrupção, besteira, é muita inocência pensar e julgar um
filme desse tipo com moralismo. Se a turma do politicamente correto chegar no cinema, corram para as montanhas.
Além de uma comédia, o filme
possui, sim, suas linhas sérias a partir da segunda metade do filme. Questões
familiares, vícios e descontroles estão em pauta também em uma história de
ascensão e queda, porém com poucos julgamentos por parte do público.
Scorsese opta, também, pela
montagem de takes longos. A edição, ao lado de sua fiel escudeira, Thelma Schoonmaker, é muito bem
trabalhada e faz com que tudo saia com naturalidade. Os takes prendem o
espectador, algo bem parecido com o que Tarantino
faz em seus filmes. Dá aquele certo desconforto, meio à deriva do que pode
acontecer.
Além disso, boa parte do filme vem
acompanhada de uma ótima trilha sonora que vai de músicas atuais como Foo Fighters e Lemonheads até clássicos como Bo
Diddley, todas utilizadas com um ar de deboche por parte do diretor,
deixando as cenas bem mais divertidas.
You did it again, Marty!
Mais uma vez, volto a escrever
sobre um filme em que Leonardo DiCaprio
está nele (o outro foi Django). E
mais uma vez volto a dizer que, se ele não é o melhor ator de sua geração, com
certeza chega bem perto. Suas habilidades como ator são incríveis e a interação
com os outros atores, idem. A prova disso é uma cena hilária em que Jordan
enfrenta uma overdose de mandrix. Há muito tempo não via uma sequência tão
engraçada. A conquista do Globo de Ouro de
melhor ator em filme de comédia/musical é merecida.
Incrível, também, é como Martin
Scorsese sabe montar papéis para seus protagonistas levarem premiações. Porém,
conhecendo os dinossauros da Academia, provavelmente DiCaprio ficará apenas na
indicação ao Oscar. Uma pena.
Mas não é só com Leo que o diretor
mostra suas habilidades em explorar o melhor de cada ator. Jonah Hill faz um excelente trabalho no papel de Donnie Azoff, sócio de Belfort. Ele já
tinha feito uma ponta bizarra em Django
Livre,
mas agora tem destaque na trama e rouba a cena em inúmeras situações, beirando a vergonha alheia. O
garoto tem futuro.
Completamente nonsense e recheado
de humor negro, O Lobo de Wall Street
é uma das melhores comédias dos últimos tempos e traz de volta aquele Martin
Scorsese fascinado por anti-heróis. Não importa se é comédia, drama, ação ou
suspense, quando se trata do imoral, Marty sabe como ninguém tratar o assunto
sem pudor e sem medo de ser feliz.
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