Série Oscar 2014: O Lobo de Wall Street



Martin Scorsese é um homem da máfia. Não, calma, apesar de ter crescido em Little Italy - um bairro perigoso de Nova Iorque - o diretor, felizmente, não seguiu a carreira no mundo do crime. Melhor, criou inúmeros personagens e ambientes inspirados naquilo que viu durante toda sua infância no pequeno bairro italiano. Mafiosos italianos, bandidos de rua, donos de cantina, entre outros.

E, depois de ter explorado a máfia italiana e irlandesa nos EUA, eis que seu novo lançamento traz uma fórmula nova: Mostrar a máfia americana com uma comédia.
Baseada na autobiografia homônima, O Lobo de Wall Street conta a história da vida regada a excessos de drogas, dinheiro e prostitutas de Jordan Belfort, um corretor de Long Island que passou 20 meses na prisão por fraude e por ter enganado investidores em um esquema massivo de corrupção em 1990.

O novo longa de Martin Scorsese relembra um pouco uma de suas obras: Os Bons Companheiros, em que um novato entra para a máfia e adquire experiência o suficiente para montar seu próprio negocio. Com esse não é diferente. Belfort começa a trabalhar em uma corretora como um funcionário comum, no entanto, após uma conversa esclarecedora com seu chefe (em uma ótima ponta de Matthew McConaughey) e ver a crise acabar com a empresa em que trabalha, ele decide montar sua própria empresa com figurões de seu bairro, sem experiência alguma.

A trama de três horas de duração parte para uma comédia pra lá de negra sobre o lado podre de Wall Street, bem diferente da visão que Oliver Stone deu em Wall Street, 1 e 2. O diretor deixa todo o pudor de lado para contar sua história. Mulheres nuas e uma quantidade exorbitante de “fucks” (506 no total, temos um recorde!) aparecem com a maior naturalidade do mundo. “Isso não é normal, no mundo real, mas quem disse que eu quero viver nesse mundo?”, diz Jordan Belfort a seu pai, quando é criticado por gastar cerca de U$ 26 mil em um jantar e mais uma boa grana em “entretenimento”, se é que me entendem.

E é exatamente isso que Scorsese tenta mostrar: aquele lado negro do tal sonho americano. Aquele mundo que só quem vive nele sabe o que acontece, e olhe lá. Alguns críticos lá fora disseram que o filme bajula a corrupção, besteira, é muita inocência pensar e julgar um filme desse tipo com moralismo. Se a turma do politicamente correto chegar no cinema, corram para as montanhas. 

Além de uma comédia, o filme possui, sim, suas linhas sérias a partir da segunda metade do filme. Questões familiares, vícios e descontroles estão em pauta também em uma história de ascensão e queda, porém com poucos julgamentos por parte do público.

Scorsese opta, também, pela montagem de takes longos. A edição, ao lado de sua fiel escudeira, Thelma Schoonmaker, é muito bem trabalhada e faz com que tudo saia com naturalidade. Os takes prendem o espectador, algo bem parecido com o que Tarantino faz em seus filmes. Dá aquele certo desconforto, meio à deriva do que pode acontecer.

Além disso, boa parte do filme vem acompanhada de uma ótima trilha sonora que vai de músicas atuais como Foo Fighters e Lemonheads até clássicos como Bo Diddley, todas utilizadas com um ar de deboche por parte do diretor, deixando as cenas bem mais divertidas.

You did it again, Marty!

Mais uma vez, volto a escrever sobre um filme em que Leonardo DiCaprio está nele (o outro foi Django). E mais uma vez volto a dizer que, se ele não é o melhor ator de sua geração, com certeza chega bem perto. Suas habilidades como ator são incríveis e a interação com os outros atores, idem. A prova disso é uma cena hilária em que Jordan enfrenta uma overdose de mandrix. Há muito tempo não via uma sequência tão engraçada. A conquista do Globo de Ouro de melhor ator em filme de comédia/musical é merecida.

Incrível, também, é como Martin Scorsese sabe montar papéis para seus protagonistas levarem premiações. Porém, conhecendo os dinossauros da Academia, provavelmente DiCaprio ficará apenas na indicação ao Oscar. Uma pena.

Mas não é só com Leo que o diretor mostra suas habilidades em explorar o melhor de cada ator. Jonah Hill faz um excelente trabalho no papel de Donnie Azoff, sócio de Belfort. Ele já tinha feito uma ponta bizarra em Django Livre, mas agora tem destaque na trama e rouba a cena em inúmeras situações, beirando a vergonha alheia. O garoto tem futuro.

Completamente nonsense e recheado de humor negro, O Lobo de Wall Street é uma das melhores comédias dos últimos tempos e traz de volta aquele Martin Scorsese fascinado por anti-heróis. Não importa se é comédia, drama, ação ou suspense, quando se trata do imoral, Marty sabe como ninguém tratar o assunto sem pudor e sem medo de ser feliz.


Nota:

Nenhum comentário

‹‹ Postagem mais recente Postagem mais antiga ››

Postagens populares