Elysium


Você assistiria um filme de ficção científica de baixo-custo de um diretor estreante, atores pouco conhecidos e roteiro cheio de críticas sociais provenientes do apartheid?

E um outro de mesmo gênero com uma crítica social parecida, um orçamento de grande estúdio, atores conhecidos e o segundo trabalho de um diretor bem elogiado pelo seu primeiro longa?

Sim, estamos falando de Neill Blomkamp, diretor de Distrito 9 e Elysium, seu mais novo lançamento que, apesar de premissa parecida com o anterior, o desafio é ainda maior.


Elysium se passa no ano de 2159, quando a escassez de recursos e a super-população o fizeram do planeta um lugar completamente caótico. As diferenças sociais chegaram ao ápice e os cidadãos com maior renda financeira voaram para a estação espacial (título do longa), onde tudo é controlado por meio de tecnologia e fatores como a cura de doenças e mortes já são controlados pelas máquinas. Enquanto na Terra, Max sofre um acidente e é infectado por uma radiação que lhe dá apenas mais cinco dias de vida. Porém, seu interesse por invadir Elysium e se curar se choca com um golpe de estado planejado por uma secretária de defesa, que pode mudar todo o curso de Elysium.

O diretor sul-africano utiliza a mesma formula que o fez se destacar com Distrito 9: Metáforas por meio da ficção cientifica para tratar de assuntos delicados e recorrentes à nossa realidade como um todo. Porém, é nítido que Blomkamp sofreu certas intervenções de gente maior que ele. Precisamos entender que o filme precisa atender à grande expectativa de um grande estúdio, portanto, é certo que ele teve que ouvir certas exigências como um “mais explosões aqui” ou um “mais pancadaria ali”. É a consequência de encarar uma grande produção. (Podem apostar que José Padilha sofreu do mesmo mal em Robocop).

O grande ponto forte da trama é sua primeira parte. Nela, vemos um retrato da Terra no futuro como sendo uma grande favela. Los Angeles, local onde o reside o protagonista, é praticamente uma gigantesca Tijuana altamente populada, poluída, carente de serviços públicos e controlada por rebeldes, mercenários e donos de indústrias bilionárias. Além disso, há policiais robôs que não hesitam em abordar os “cidadãos” com agressões física. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Acima do nosso planeta está Elysium, estação espacial
acessível apenas aos seus cidadãos e governado por uma mulher forte politicamente e ambiciosa por poder. Sim, qualquer semelhança aqui também é coincidência.

Após essa primeira parte finalizada, eis que os efeitos blockbuster começam a aparecer. Tudo parece ser resolvido com pancadaria e efeitos especiais. Toda aquela questão política apresentada em primeira estância cai por terra e dá espaço a conclusões um tanto quanto hollywoodianas, que de certa forma esfria o espectador em relação ao roteiro. Não chega a prejudicar completamente o desfecho, pois tudo é bem explicado, coeso e dinâmico.

É do Brasiiil!

Outro acerto de Blomkamp foi na escolha do elenco. Jodie Foster, Matt Damon e William Fichtner integram a ala dos conhecidos, o ultimo pouco menos. Destaque para a atuação de Foster no papel da governante de Elysium, Delacourt. Sua personagem é um retrato frio da forma com que a elite age perante aos problemas com classes inferiores e de como a busca constante pelo poder e pelo benefício próprio influencia na decisões governamentais.

Matt Damon não chega a encantar no papel de Max. Na primeira parte vemos o protagonista mais humanizado, retratando um cidadão qualquer em meio aquele caos populacional. Conforme as coisas vão acontecendo, Damon deixa de ser o cidadão comum e passa a ser uma espécie de Jason Bourne robotizado. O ator não faz milagres, mas consegue mostrar um bom trabalho.

Na ala dos atores pouco badalados está Alice Braga no papel de Frey, uma mulher que Max conheceu ainda quando criança e que praticamente vive para cuidar de sua filha com leucemia. Apesar de boa atuação, sua influência no filme é fraca e as vezes até desnecessária. Alice é uma atriz constante e  tem um bom currículo em Hollywood, na minha opinião já está mais do que na hora dela ser chamada para fazer papeis mais expressivos.

No entanto, a grata surpresa do filme é o excelente trabalho de seus dois principais coadjuvantes. Um deles é Sharlto Copley, que já havia trabalhado com Blomkamp em Distrito 9 como protagonista, desta vez faz um papel do outro lado da história. Kruger é um agente infiltrado na Terra acionado ilegalmente por Delacourt para caçar Max. O personagem evolui de forma rápida e praticamente se transforma no responsável por tornar a trama um pouco mais interessante nos aspectos de ação. Copley já mostrou bom trabalho anteriormente e se destaca mais uma vez.

Já o outro é bem conhecido pelos brasileiros. Wagner Moura chega em Hollywood chutando a porta no papel de Spider, um hacker e uma espécie de coyote do futuro. Sua participação na trama é grande e muito bem trabalhada. Wagner já mostrou suas qualidades em produções nacionais e tem tudo para continuar fazendo trabalhos lá fora.

Elysium consegue prender a atenção do público em quase duas horas de duração, mas ao contrário de Distrito 9, peca por não manter o ritmo crítico durante todo o longa, dando um desfecho raso, comum e sem emoção. Blomkamp tinha algo grande em mãos, e eu acredito que fez o que pode para manter suas principais características, conseguiu durante sessenta minutos mas não enfiou o dedo na ferida. Fica para a próxima.

Nota:


Um comentário

  1. Vinícius......... fiquei com vontade de assistir também ao outro filme q vc cita, o Distrito 9. Depois q eu conseguir tempo, para assistir os 2, eu volto aqui!! :)

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