Em dezembro de 2009, estreava Avatar, filme dirigido, roteirizado e produzido pelo americano James Cameron. Pouco se sabia sobre seu enredo e muitos críticos previam um fracasso comercial. Ledo engano. Avatar conquistou o público com visuais e cenários magníficos, inovações tecnológicas exorbitantes, e, apesar de ter levado apenas três das nove indicações ao Oscar, muitos o consideram o divisor de águas entre a era do cinema convencional e o digital.
Em 2012, mais uma grata surpresa. Desta vez, com A Invenção de Hugo Cabret, dirigido por Martin Scorsese, adaptação da obra literária Hugo. O filme, apesar de não ter o mesmo impacto causado por Avatar, conquistou o público amante da sétima arte, dando uma verdadeira aula de cinema. Além da tecnologia 3D explorada de forma única e fantástica. Hugo, foi o maior vencedor da noite do Oscar, junto ao filme mudo O Artista, levando cinco de suas onze indicações.E mais uma vez, agora em 2013, um filme pouco mencionado pela mídia antes de seu lançamento e com enormes chances de fracasso promete surpreender e levar uma coleção de estatuetas para casa.
As Aventuras de Pi - baseado na obra literária de Yann Martel, A Vida de Pi - conta a história de Piscine "Pi" Patel, um garoto indiano, filho de donos de um zoológico, que se vê obrigado a mudar com sua família junto aos animais para o Canadá devido à crise econômica da Índia. Após sobreviver ao naufrágio do navio cargueiro que os levava à América, Pi precisa lutar por sua vida em um bote salva-vidas com uma zebra, um orangotango, uma hiena e Richard Parker, um tigre de bengala.
Após alguns problemas com elenco e na direção, Ang Lee assumiu o cargo, com maestria, diga-se de passagem. O diretor taiwanês que passou por inúmeros gêneros - desde premiado O Tigre e o Dragão, passando pelo desastroso Hulk, até o aclamado e polêmico O Segredo de Brokeback Montain - parece que finalmente atingiu seu ápice e maturidade. A direção é primorosa.
Se no primeiro ato, o filme parece conter cenas desnecessárias, elas servem para que você conheça o carismático protagonista, principalmente suas crenças religiosas (são três), nos preparando para a surpreendente sequência. A partir do naufrágio, vem a afeição, não só pelo garoto, mas pelos outros animais dentro da barca. Sejam sentimentos bons ou ruins sobre eles.
A excelente direção novamente se torna notável a partir do momento em que Pi se vê apenas com Richard Parker. É realmente incrível a forma como o diretor trata com precisão a relação do garoto com o tigre, e faz com que a mesma tome proporções poéticas, junto aos efeitos do cenário, onde em muitas vezes se torna um exercício visual, uma experiência fantástica.
Suraj Sharma, mostra o porquê foi escolhido entre os mais de três mil candidatos para o papel de Pi. O menino surge como um ator promissor, mostrando que tem preparo, não só mental, como físico, algo que o papel exige e muito. Ele faz com que o personagem caia nas graças do público, tanto nos momentos cômicos, quanto nos emocionantes.
O destaque da trama, com certeza é Richard Parker. O grau de realismo do tigre é tão grande, que é praticamente impossível de notar que foi feito por computação gráfica. Pela primeira vez, vejo tamanha perfeição não só visual, como sentimental em um personagem digitalmente criado. Assim como Pi menciona em certo ponto do filme, nós podemos ver sua alma em seus olhos. Percebemos, que por mais aterrorizante ele seja, é apenas um animal frágil que luta para sobreviver. Não só passamos a nos identificar com ele, como também nos apegamos.
Destaques individuais a parte, é certo que os dois se completam. A relação entre o garoto e o tigre é sincera, mesmo que seja levada pelo instinto de sobrevivência de cada um. Você espera que a ação de um, resulte na reação do outro.
Gerard Depardieu faz uma ponta no filme como um cozinheiro ranzinza, que ao final se mostra incrivelmente necessário à trama.
Mesmo que seja impossível citar todas as qualidades técnicas do filme, é necessário destacar a fotografia, edição e montagem. Ambos fazem com que você sinta que está vivendo uma experiência única, com cenários repletos de luzes e detalhes impressionantes.
A trama possui um desfecho inesperado e reflexivo, que levantam discussões sobre a vida, religiosidade, e nos faz pensar de que maneira devemos encarar nossas experiências e sentimentos.
Inovador, impressionante, poético e simples, As Aventuras de Pi é a prova real de que a magia do cinema está viva, e se renova a cada ano que passa, muito longe de se acabar.
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