Série Oscar 2016: Spotlight - Segredos Revelados


Desde que entrei na faculdade de jornalismo, todos os professores me recomendaram "Todos os Homens do Presidente", belíssimo filme de 1976, de Alan Pakula, que conta como dois repórteres do “The Washington Post” revelaram ao mundo um dos maiores escândalos da política mundial: o caso Watergate. De fato, o filme é uma aula de jornalismo, que com seu ar documental, traz o realismo sem glamourizar a profissão. Em 2016, "Todos os Homens do Presidente" ganhou um novo companheiro de "filmes essenciais para jornalistas".

"Spotlight - Segredos Revelados" também é baseado em uma história real, que deu origem ao livro vencedor do prêmio Pulitzer e escrito pelo mesmo grupo que participou da apuração do caso. O drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar casos de abuso de crianças causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso.  

Spotlight é, também, o nome do grupo de jornalistas do The Boston Globe, onde eles passam meses pesquisando sobre determinado caso para produzir artigos investigativos. É neste grupo que mora a grande força do filme. Primeiro pela grande mão do diretor em dar um dinamismo muito grande ao elenco, que tem Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Michael Keaton como grandes pilares da produção.   

Depois, o filme leva ao público às estruturas de roteiro bem semelhantes aos anos 80 e 90, onde a paciência e a simplicidade de se chegar a um resultado é um trunfo. Em "Spotlight", não há pressa de climax, nem de entregar informações desencontradas, tudo no filme é feito com o máximo de cuidado com o que se apura e o que se transmite ao espectador. A linha entre o que pode soar sensacionalista e o real é muito tênue e o diretor e roteirista Tom McCarthy sabe bem se equilibrar nessa linha. O diretor, aliás, é praticamente um estreante. "Trocando os pés", filme com Adam Sandler é seu grande lançamento na carreira.  

Mesmo assim, sua mão, tanto como diretor, quanto roteirista é fundamental para que o longa tenha a qualidade que tem. A trama prende, envolve e mergulha seu público na redação de um jornal tradicional dos EUA, sem heroísmos ou figuras patrióticas típicas em filmes assim, o que se passa dentro da redação (e até fora dela, durante apurações) é jornalismo da sua mais pura essência. Até mesmo quanto seus personagens vão descobrindo alguns detalhes importantes sobre a própria gestão do jornal e algumas autoridades.  

Claro que o filme também não pode ser tomado como verdade absoluta. O filme aborda apenas o lado em que os jornalistas abordam, com vítimas e pessoas que de alguma forma estão ligadas ao caso. Ainda assim, a revolta toma conta de quem assiste por saber que atrocidades como essas aconteceram, principalmente quando sem fala de uma entidade religiosa.

Um ponto interessante é que o longa, apesar de flertar melhor com os jornalistas, ele é de fácil entendimento pelo público e revigora a profissão para quem vê de fora. Em tempos modernos, é sempre bom mostrar ao público como foi e como deve ser uma apuração de caso.

O elenco, como dito anteriormente é, com certeza, o que potencializa o filme. A disciplina dos atores com o que o diretor pede é incrível, ainda mais quando se trata da personalidade de cada um. Por mais que não haja uma estrela brilhando sozinha no elenco (mais um acerto), Mark Ruffalo é o destaque no papel de Mike Rezendes, com um tom mais excêntrico, ele se equilibra entre a afobação pela inexperiência e a habilidade e faro jornalístico. Rachel McAdams por sua vez, atua muito bem como Sacha Pfeiffer e Michael Keaton, bom, este parece ter voltado à sua forma depois de Birdman. Mas é interessante ver as divergências do papel anterior e este, onde ele está mais acuado.  

Consistente, simples e impecável, "Spotlight – Segredos Revelados" é muito mais do que uma aula de jornalismo, é um semestre na faculdade do curso. Tom McCarthy faz sua própria matéria especial com uma manchete simples e um corpo de texto sem pesar ao sensacionalismo. É sempre bom revigorar o tema do jornalismo sem glamour ou heroísmo, apenas mostrar o que é a profissão. Aos meus amigos professores, separem quatro aulas no semestre. Além de "Todos os Homens do Presidente", virou obrigação mostrar "Spotlight" aos alunos.

Nota:

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