Steven Spielberg é um dos maiores diretores de sua geração. Não há o que discutir quando falamos das qualidades de seus filmes que, mesmo quando fracos, ainda possuem diversas qualidades. No entanto, há alguns anos que ele não consegue emplacar uma verdadeira obra-prima. "As Aventuras de Tin-Tin" foi seu último grande trunfo. Depois vieram "Cavalo de Guerra" e "Lincoln", dois filmes bons, mas que claramente foram feitos no piloto automático a fim de bajular a academia e conseguir algumas indicações ao Oscar. Claro, conseguiram. "Lincoln" levou duas estatuetas das 12 indicações e "Cavalo de Guerra" nenhum, mas obteve 6 indicações.
Mais uma vez, um filme de Spielberg está entre os indicados a Melhor filme e outras cinco categorias. "Ponte dos Espiões" estreou em outubro do ano passado no Brasil (desculpem o atraso).
Baseado em fatos, "Ponte dos Espiões" traz Tom Hanks na pele de James Donovan, um advogado de seguros que é chamado para defender Rudolf Abel (Mark Rylance), um espião soviético capturado pelos americanos. Mesmo sem ter experiência nesta área legal, Donovan torna-se uma peça central das negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética ao ser enviado a Berlim para negociar a troca de Abel por um prisioneiro americano, capturado pelos inimigos.
Apesar de estarmos falando das qualidades do diretor americano, não é dele o maior trunfo deste longa. O roteiro, escrito por Matt Charman e os irmãos Coen é o grande pilar do filme. É verdade que o ritmo é lento, mas os diálogos, muitas vezes ácidos, ganham destaque no desenvolver da trama sem muito esforço. Um filme sobre a Guerra Fria não precisa de ação, e é este o grande ponto.
De início, como eu disse, o ritmo é lento e nos faz pensar que o filme será uma interminável batalha jurídica. Mas os acontecimentos, guiados pela ótima atuação de Hanks, nos levam a um didatismo e ótimas sequências de negociações e até mesmo nas discussões que tem com seu cliente, o espião soviético. A maneira de como ele conduz os fatos e as autoridades também é fantástica. Além disso, o longa transmite bem a tensão vivida na época entre americanos e soviéticos. Hanks segura bem a barra do personagem e adota o tom perfeito para lidar com situações de radicais.
No entanto, por melhor que seja a mão do diretor, há alguns elementos que prejudicam a trama. Spielberg parece, sim, estar no piloto automático quando mais uma vez tenta impor um clima semelhante aos dois anteriores. Spielberg tem uma mania irritante de fazer tudo parecer uma grande amizade entre o protagonista e o coadjuvante. E por mais que na vida real Donovan e o espião criaram laços, o diretor faz parecer um tanto quanto piegas.
Isso sem contar sua forma de conduzir as conclusões, lentas e que se baseiam na grande mensagem que é sobre a família, o amor, e a amizade. Sim, pode até já ter virado um costume do diretor, mas é necessário saber dosar a ponto de não prejudicar o ritmo de uma trama, ainda mais quando seu argumento já lhe sugere ser lento. Algumas cenas inclusive, poderiam ser menos arrastadas e diminuiriam a duração, que é longa.
"Ponte dos Espiões" peca muito pelo dramalhão, mas ganha ao trazer uma análise mais fria e com um patriotismo menos evidente sobre a guerra fria. Claro, graças ao ótimo roteiro alinhado à fotografia impecável e (mais) uma ótima atuação de Tom Hanks. Ainda assim, é preciso admitir, Steven Spielberg, mesmo quando está no piloto automático, consegue prender a atenção de muita gente, inclusive a minha.
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