Love 3D



Gaspar Noé, diretor franco argentino, é um cara que gosta de chamar a atenção com seus filmes.  Eles costumam provocar diversas sensações no público, seja pelas cenas chocantes ou até mesmo pela estética utilizadaEm 2002, por exemplo, chocou o mundo com Irreversível, longa perturbador, que abusa de câmeras em rotação e contém uma cena de estupro de nove minutos. Treze anos depois, Noé volta a fazer barulho com seu novo lançamento: Love 3D. 

Love foi sucesso de público em Cannes no ano passado e causou burburinho nas redes sociais por conta de seus cartazes provocativos. Não por menos, o longa tem a premissa de explorar o amor do ponto de vista sexual e promete sequências de sexo explícito e em 3D. Basicamente um pornô cult. 

O filme conta a história de Murphy, um homem frustrado com a vida que leva ao lado de sua esposa e filho, que recebe a ligação da mãe de sua ex-namorada e o pergunta se ele tem notícias dela, já que está desaparecida há meses. A ligação desencadeia uma série de sentimentos, que faz com que ele relembre fatos marcantes do relacionamento. 

Sim, a promessa do diretor de levar às telonas sexo explícito é cumprida. No entanto, há de se ressaltar que não se trata de um filme pornô propriamente dito, muito menos tão chocante quanto prometia serÉ um filme provocativo, que traz à tona diversas sensações ao espectador, e acredite, excitação é a menor delas. 

filme já começa num quarto escurecido com um casal masturbando um ao outro ao som de uma trilha triste e lenta. A partir dali, o público já pode ter ideia do que vai encontrar nas próximas duas horas, ou pelo menos na próxima hora.  

A primeira metade de Love é excepcional e funciona exatamente como diretor quer: Provocativo, misterioso e sensitivo. Ali, o espectador tem poucas informações e vai tentando montar o quebra cabeça com as memórias de Murphy até chegar na situação presente. Instiga o público a querer cada vez mais flashbacks a fim de ter explicações. Porém, conforme as informações chegam, o longa vai perdendo força e passa a ter quase cinquenta minutos de mais do mesmo, e é ai que vira o sexo pelo sexo, impacto pelo impacto, que já nem choca mais, nem traz uma sensação diferente. Aliás, o sentimento de tristeza impera durante boa parte do tempo. Resta apenas a ótima fotografia e estética impecável 

O argumento não é lá essas novidades. Achei completamente parelho a (500) Dias Com Ela,  de Mark Webb: Um homem relembrando momentos bons e ruins com sua ex-namorada. Obviamente mais realista e pesado.  

Um ponto interessante no roteiro são os pequenos alívios cômicos e certas jogadas do diretor ao usar uma autopromoção dentro do próprio filme. Diversas vezes há algum nome relacionado a Gaspar Noé ou até mesmo algumas explicações dentro dos diálogos sobre a intenção de fazer um filme deste gênero. Metalinguagem muito bem usada pelo argentino. 

O elenco, por sua vez, não exibe um trabalho esplendoroso, porém não compromete. Alguns podem até reclamar da falta de carisma do trio de protagonistas Karl Glusman (Murphy), Aomi Muyock (Electra, a ex) e Klara Kristin (Omi, esposa), mas acredito que a ideia do diretor tenha sido exatamente colocar atores estreantes e com pouca expressão para deixar este ar de realismoApesar dos diálogos rasos, o trio possui certa química e se sai muito bem nas cenas em que são exigidos sexualmente, principalmente na cena determinante para o enredo, em que há um ménage a trois entre eles. 



Provocativo, ousado e muito sensitivo, Love 3D explora bem os estágios do amor, mas peca na hora de impor um ritmo durante suas longas duas horas com doses repetitivas e maçantes. Gaspar Noé incita, aguça os sentidos e até causa desconforto, mas está longe de incomodar ou chocar como pretendia. O 3D é ate bem aproveitado em algumas cenas e vale a pena ser visto, mas não espere se impressionar mais do que os cartazes já fizeram. Ainda assim, é bom ver que pontos fora da curva ainda causam burburinhos.





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