Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola



Seth MacFarlane é um ícone da comédia americana dos dias atuais. O criador de Family Guy e American Dad não poupa piadas de humor negro e acumula polêmicas por onde passa. Inclusive uma apresentação bastante criticada no Oscar de 2013. 

Em 2012, MacFarlane estreou nas telonas com Ted, filme sobre um ursinho de pelúcia vulgar e irresponsável. O longa foi um sucesso de bilheteria (US$ 501 Milhões) e de crítica. O que fez com que o diretor ganhasse passe livre para fazer o que bem entendesse em seu próximo longa. 

Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola já começa errado com essa tradução sem sentido algum. O nome original é Million Ways to Die in the West, e, se fosse traduzido de maneira literal não haveria problema algum e o contexto do filme seria totalmente justificado no título. 

Bom, mas como os tradutores brasileiros gostam de ser ~descolados~ nos títulos, vamos ao filme desse jeito mesmo. 

Seth definitivamente abraçou esse seu projeto. Afinal, o cara dirige, roteiriza e interpreta Albert, um criador de ovelhas covarde que odeia viver no velho Oeste. A medicina é precária, a higiene é praticamente inexistente e tudo aquilo que não é você, pode ou quer te matar (daí o título gringo). Ao perder a namorada (Amanda Seyfried) para um barbeiro almofadinha (Barney Stinson...digo, Neil Patrick Harris), Albert o desafia para um duelo e conta com ajuda de uma forasteira (Charlize Theron) para aprender a pegar numa pistola (¯\_(ツ)_/¯). 

O maior problema do longa é exatamente o fato de ter Seth à frente de todo o projeto. Claro, ele já provou seu potencial em Ted, mas além dele não levar jeito algum para atuar como protagonista, sua ideia de transmitir seu formato em desenhos num filme live-action é praticamente inviável. As piadas, apesar de boas nem sempre funcionam com pessoas e os efeitos especiais para tornar a situação mais non-sense fazem tudo se perder por completo. 

O fato do diretor multi-tarefas ter abraçado o mundo nesse filme fez com que ele ficasse uma bagunça completa. Nada parece fazer muito sentido na história além de retratar o Velho Oeste como algo estritamente perigoso e zoneado. 

Porém, nem tudo é negativo. Ainda que o roteiro seja bem fraco e cheio de furos, o criador de Family Guy ainda sabe arrancar algumas risadas do público em situações extremamente bizarras. Como é o caso do casal de coadjuvantes, em que a moça é uma prostituta mas se recusa ter relações sexuais com o namorado antes do casamento por causa de sua religião.  

Os acontecimentos hilários que fazem jus ao título (original) são bons, mas as piadas se tornam cansativas e repetitivas, que fazem com que a trama perca força e se arraste por quase duas horas, tempo praticamente inviável para uma comédia desse gênero. Noventa minutos seriam o suficiente para torna-lo mais enxuto e, quem sabe, melhor. 

A caracterização da época é um tanto quanto falha. Tudo bem que a ideia é escrachar o gênero, mas não era necessário fazer algo tão fraco. Apesar de boa fotografia e cenários típicos, ainda assim fica aquela sensação de que tudo foi feito às pressas. 

Já as atuações, com exceção a MacFarlane, não decepcionam. O que não dá pra entender é porque diabos Liam Neeson (seu sotaque irlandês em pleno Oeste) e Charlize Theron aceitaram participar do filme. 

Apesar de fazer com que o público se divirta em certos momentos, Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola é tão fraco quanto seu título em português. Seth MacFarlane não repete o sucesso de Ted ao tentar inserir piadas de desenho animado com seres humanosNinguém questiona sua habilidade em fazer humor, mas realizar sátiras com gêneros é um tanto quanto complicado e defasado. É preciso saber (e entender) que existiu apenas um Mel Brooks no mundo.


Nota:

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