No início dos anos 2000, Hollywood tentava entender a fórmula perfeita para fazer filmes baseados em quadrinhos. Não era para menos, afinal, o fracasso de Hulk, Demolidor e Elektra fez com que o gênero perdesse a força e recomeçasse do zero. Mas em 2005, além das adaptações de Constantine e V de Vingança, Frank Miller foi o responsável por levar às telonas algo completamente inovador.
Sin City era baseado na Graphic Novel de mesmo nome e tinha codireção de Robert Rodriguez e do próprio autor. Para as cenas ficarem mais próximas das HQ's, todo o filme foi rodado em p&b com alguns pontos coloridos de destaque, como o vermelho do sangue. Além disso, o fundo verde era praticamente indispensável para o cenário. A sequência foi anunciada e ali começava uma das maiores novelas envolvendo atores, atrizes e muitos boatos.
Nove anos se passaram e finalmente Sin City 2: A Dama Fatal chegou aos cinemas. Mais uma vez com três histórias paralelas envolvendo velhos conhecidos: Marv (Mickey Rourke), Nancy (Jessica Alba), Dwight (Antes interpretado por Clive Owen, agora por Josh Brolin), Gail (Rosario Dawson) e claro, o senador Roark (Powers Boothe). As tramas nem sempre seguem uma ordem cronológica (vide que Marv está de volta) e duas delas foram escritas excepcionalmente para o longa.
Apesar de fazer muito tempo desde a sua estreia, parece que foi ontem que entramos nas ruas e nos becos de Basin City pela primeira vez. Tudo praticamente está no mesmo lugar, desde a Cidade Velha e a Boate Kadie's até a trilha tema que embala os acontecimentos da cidade do pecado. A única diferença é a tecnologia, agora mais avançada e a utilização do 3D, muito bem usado, diga-se de passagem.
Talvez seja esse um dos problemas dessa sequência: O mais do mesmo. Afinal, o primeiro valia pela experiência de assistir a algo esteticamente inovador. Sendo assim, as atuações razoáveis e direção desleixada da dupla ficam mais em evidência. Obviamente, para os fãs, isso não faz a menor diferença, já que o que mais importa está lá: Páginas das HQ's transmitidas numa tela de cinema.
A trama que leva o subtítulo do filme é a mais desenvolvida, já que essa faz parte da saga de HQ's. Nela, Dwight enfrenta Ava Lord (Eva Green), uma paixão antiga que lhe procura e pede um favor depois de anos. Devido às circunstâncias, o fotografo percebe que nada é aquilo que pareceu ser e, com a ajuda de Marv e as garotas da Cidade Velha, decide resolver a situação. A mudança de atores no papel do personagem principal prejudica muito o andamento. Mas é Eva Green que mantém a chama acesa (e que chama) ao fazer um ótimo trabalho no papel da tal Dama Fatal. Se tem algo que ninguém pode reclamar é o tom noir-sensual que os diretores impõem. Tudo nele é muito bem glamourizado e isso acrescenta muito no enredo.
Já The Long Bad Night conta sobre um homem com talento para jogos de azar - interpretado por Joseph Gordon-Levitt - que acaba se metendo com o senador Roark ao enfrentá-lo em um jogo de Poker. Ao tirar toda a grana do político, ele é aconselhado a sumir o mais rápido possível, ou acabará lidando as consequências. A história é bem articulada e desenvolvida, mas seu desfecho, apesar de interessante, parece perder a força da história, o que resulta em apenas mais uma. Essa é uma das histórias escritas por Miller para apenas o filme.
Nancy's Last Dance é a outra. Jessica Alba volta ao papel da dançarina sexy, Nancy Callahan, desta vez não mais uma garota indefesa. Nancy passa os anos criando coragem para se vingar de Roark, principal responsável pela morte de John Hartigan (Bruce Willis). O conto encerra o longa e mais uma vez dá a sensação de enfraquecimento. Não que seja ruim, mas parece que falta aquele quê a mais da história de origem. A impressão que fica é que Miller a escreveu às pressas para entregar logo à produção. Ainda assim, fica o destaque de Alba, mais experiente e ainda mais sensual. A atriz está nitidamente mais à vontade no papel da stripper e mais uma vez o sensualismo entra em vigor a favor do produto.
Menção honrosa a Marv, interpretado por Mickey Rourke. O grandalhão tem participação ativa em duas histórias e cumpre bem o papel de intermediá-las. Sem dúvidas, esse é o melhor personagem de ambos os filmes e agrada o telespectador com seu instinto mais violento que a própria cidade.
Apesar das histórias serem mais rasas em relação ao primeiro, a direção ter deixado um pouco a desejar e dar a impressão de faltar aquele tempero final (talvez por não ter mais aquele quê de novidade), Sin City 2: A Dama Fatal repete a fórmula do sucesso, faz os nove anos de espera valerem a pena e a experiência visual continua sendo deslumbrante e bem divertida.