Falar sobre religião é sempre muito complexo. Um bom exemplo disso é a cautela com que a indústria cinematográfica trata o assunto. A quantidade de filmes que aprofundam o tema é muito pequena e, quando o fazem, sempre vem com alguma polêmica e gera discussões por parte dos fanáticos ou estudiosos, muitas vezes sem relevância alguma.
Deus Não Está Morto é mais um desses filmes. Ele conta a história do universitário Josh Wheaton (Shane Harper) que, no primeiro dia de aula é obrigado a questionar e negar sua fé por um professor de filosofia ateu, interpretado pelo eterno Hércules Kevin Sorbo. Ao negar a premissa de que Deus não estava morto, o estudante é desafiado pelo professor a utilizar vinte minutos das próximas três aulas para apresentar argumentos e provar o contrário. Caso não consiga convencê-lo, Josh corre o risco de perder o semestre e, consequentemente, prejudicar sua carreira.
Dirigido por Harold Cronk, o filme estreou no mês passado e teve pouca distribuição no circuito nacional. Porém, sua notoriedade vem aumentado cada vez mais por meio do Netflix. Portanto, você provavelmente verá nas redes sociais inúmeras pessoas postando o nome do filme ou te mandando sms com o mesmo. Isso porque nos créditos finais, ele pede para que os espectadores façam isso e propaguem a mensagem para as pessoas que conhecem. E é aí que mora o problema.
A proposta de colocar o ateísmo contra o teísmo em uma discussão cientifica e filosófica é promissora. O problema é que desde o começo, o enredo tende a defender muito mais o fundamentalismo cristão ao invés de pregar o equilíbrio na discussão. A ideia de colocar os dois personagens declaradamente ateus como vilões e pessoas más é um tanto quanto perigosa. Tentar idealizar o cristianismo como forma de salvação, inclusive colocar em confronto outra religião é ainda mais.
Os pontos positivos ficam por parte do conceito de que você não é obrigado a aceitar tudo aquilo que lhe impõem. A personalidade do garoto é de se admirar. Os debates e diálogos também fortalecem o filme. Todas as teorias e argumentos são bem articulados de ambos os lados, mas o problema é que quando o aluno consegue finalmente concluir o pensamento em sua ultima apresentação, o artificio usado é completamente raso e toda a construção cai por terra, apelando para traumas do professor que o fizeram ter esse tipo de pensamento.
Além disso, nada nele parece funcionar como um filme. Muitos personagens simplesmente são jogados para o público sem a menor identificação apenas para reforçar o conceito religioso do enredo. Repleto de subtramas superficiais que mais parecem núcleos de uma novela ruim (ou uma versão barata de Babel), o formato parecido com os de televisão nada ajuda. Trilha sonora fraca e cenas totalmente desnecessárias com atuações pouco relevantes. O fato é que se a história fosse focada apenas no conflito entre professor e aluno, a riqueza de conteúdo seria bem maior.
Com tom apelativo, altamente tendencioso e um final piegas digno de Sessão da Tarde, Deus Não Está Morto não só perde a chance de impor um debate interessante entre a religião e a ciência, como também entrega um produto final aquém do que se espera de uma boa produção. Ele não é um filme religioso, mas fanático e preconceituoso. O que comprova ainda mais a ideia de que o fanatismo (independente do lado) é capaz prejudicar até mesmo produções promissoras. Quem perde é o espectador.