O Grande Hotel Budapeste


Não é novidade pra ninguém que o cinema sofre uma de suas piores crises quando se trata de roteiros e tramas criativas. Hoje, com exceção dos (poucos e mal divulgados) independentes, os filme possuem um quê de mais do mesmo e só fazem grande sucesso se possuem adaptação de algum quadrinho, best-seller, é alguma sequência ou refilmagem.  


Felizmente, alguns diretores ainda procuram fugir desse padrão para nos mostrar visões criativas e olhares diferentes do cinema, como é o caso de Wes Anderson e sua nova produção: O Grande Hotel Budapeste. 


O Grande Hotel Budapeste fica localizado na fictícia Zubrowka, na Europa Central. É um edifício decadente, sem hóspedes e triste, mas  que ainda possui sua personalidade. O proprietário, Sr. Moustafa, conhece um escritor e decide contar sua experiência no hotel e  prova que nem sempre ele foi assim. A história se passa na pré Segunda Guerra Mundial, quando ele era o lobby boy e seu protetor era o lendário concierge Gustave H., um canastrão afetado e viciado no perfume L’Air de Panache, que administra o hotel com mão de ferro para os funcionários enquanto dá uma especial atenção às velhotas milionárias que ali se hospedam. 


O filme é inspirado nos textos de Stefan Zweig, poeta e dramaturgo austríaco que faleceu em Petrópolis/RJ na década de 40. 


Anderson é um dos poucos diretores que possuem habilidade para o tal do cinema de autor, em que suas características são marcas registradas em qualquer filme feito por ele. Seu olhar é um dos mais criativos e cativantes. Rushmore, A Vida Marinha com Steve Zissou e Moonrise Kingdon não nos deixam mentir 


Neste novo longa, não podemos reclamar de absolutamente nada, já que todos os aspectos estão em grande evidência. Tudo que se tem direito de Wes Anderson está lá: Clima teatral e literário, tom farsesco,  cores vivas e quentes, câmeras frontais, personagens olhando para a câmera, planos abertos e silhuetas, trilha sonora marcante e claro, os mesmos atores de sempre (Bill Murray, Jason Schwartzman, Owen Wilson e Edward Norton). 


Além disso, Anderson consegue impor uma simplicidade fora do comum em suas tramas, que mesmo quando se perdem em meio à tantas informações, imediatamente algum detalhe se encaixa e tudo volta ao normal. 


A mistura dos gêneros também é um grande trunfo no enredo, que possui uma mistura de drama, comédia e, porquê não, suspense. Obviamente, as situações hilárias em que os personagens são introduzidos possuem maior força, já que o esforço do diretor para tornar tudo visual é grande. 


A única diferença, talvez, desse filme para seus anteriores é a complexidade do roteiro, que, como dito anteriormente, as vezes parece se perder mas logo se recupera o ritmo. Porém, se o espectador não prestar atenção nos detalhes, pode perder alguma coisa ou ficar confuso durante um tempo. 


Para quem dizia que filmes de Anderson possuem pouca carga no enredo para focar o visual (o que eu considero um engano), irá se surpreender com a força de cada personagem que compõe a trama. Não é pra menos, já que mais uma vez, sua trupe executa ótimo trabalho mesmo fazendo papeis menores. 


Sério, não tem como não querer assistir um filme que conta com a presença de Ralph Fiennes, Adrien Brody, Willem Dafoe, Harvey Keitel, Jude Law, Edward Norton, Owen Wilson, Jason Schwartzman, Edward Norton e claro, Bill Murray. 


Entre todos esses, é  Fiennes que faz o grande trabalho. No papel de Gustave, o ator inglês desenvolve um personagem complexo e faz uma atuação fantástica junto com o estreante Tony Revolori, que interpreta o Lobby Boy, Zero. Os dois vão crescendo ao longo do filme, possuem uma química perfeita e se tornam o maior alicerce da história. 

Ao melhor jeito Wes Anderson, O Grande Hotel Budapeste é mais uma obra prima do diretor, que mais uma vez dá foco na experiência do visual deslumbrante em sintonia com a força de seus personagens caricatos. Em meio a uma indústria que preza tanto pelo lucro, eis um diretor que sabe exatamente o que faz e não pensa duas vezes em ousar e colocar suas ideias mirabolantes em prática. 
Nota:
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