O Homem de Aço


Sempre gostei de quadrinhos, mas falar de heróis da DC é um verdadeiro desafio para mim. Não que rejeite completamente seus heróis ou seja um fã xiita da Marvel, mas a ideia de super-heróis vindos de outros planetas nunca me atraiu muito. Achava que - apesar de megalomaníacos - os heróis da Marvel eram mais próximos das características da personalidade humana.

Mesmo tendo essa opinião, quando se é criança e gosta de super-heróis é quase impossível você não gostar dos dois principais da editora: Superman e Batman. Você cresce sabendo quem são, e se encanta ainda mais a partir do momento em que assiste algum de seus filmes.

O domínio era total, e pouco se ouvia falar da Marvel em versões live-action. Christopher Reeve protagonizou duas das maiores adaptações de quadrinhos na pele de Clark Kent, porém, deslizou em mais duas sequências que poderia ter colocado tudo por água abaixo. Muito tempo depois, Bryan Singer fez uma espécie de filme-homenagem ao ator e causou o efeito reverso: Decepcionou a maioria dos fãs com um longa completamente nulo e sem alma. Já o Homem Morcego passou pelas mãos de muitos atores, mas oscilou entre altos e bem baixos.

O tempo passou e enquanto a DC quebrava a cabeça para tentar uma volta por cima, a Marvel crescia e entregava aos poucos um dos projetos mais ambiciosos da história do cinema. E quando o Lanterna Verde dava indícios de que tudo parecia completamente perdido, eis que surge um tal de Christopher Nolan e decide dar uma sobrevida ao Universo.

Nolan fez milagre ao dirigir a trilogia do Cavaleiro das Trevas e dar a ela o posto de uma das maiores (e mais sombrias) adaptações do cinema, criando também um dos vilões mais memoráveis da sétima arte, tudo isso batendo de frente com o projeto Vingadores em plena ascensão, dando indícios que A Liga da Justiça estava, sim, nos planos da editora.

Após nos apresentar um Bruce Wayne com roteiro envolvente e cheio de conflitos pessoais, Nolan produz aquele que pode ser o ponto de partida para o grande Universo DC nas telonas: O Homem de Aço.

A História do Superman todos já sabem. Kal-El é enviado por seus pais ainda bebê para longe de Krypton em plena destruição e cai em Smallville, e, ao passar do tempo vai descobrindo que não é um ser humano comum, descobrindo sua verdadeira identidade. A partir daí, Clark (nome dado por seus pais humanos) se torna o maior defensor do Planeta Terra.

Zack Snyder foi chamado para dirigir o filme e David Goyer para roteirizar ao lado de Nolan novamente. Como Goyer já havia contribuído no roteiro da trilogia do homem-morcego, é bem claro que o que deveríamos esperar mais um filme para ser levado a sério, regado a base de sentimentalismo e mais conflitos internos do que externos. Acertamos em partes.

A premissa do roteiro é explorar os pontos mais pessoais de Clark Kent e é um tanto quanto ousado por parte dos responsáveis. Afinal, dar destaque a sentimentos humanos de alguém que não é do nosso planeta, principalmente se esse alguém é, com uma exceção, invencível é um desafio sem tamanho. E se em algum momento esse objetivo é alcançado, em outros podemos ter a sensação de que estão tentando enfiar goela abaixo essa pretensão. Entre uma cena ou outra, somos lembrados a cada dez minutos da proposta, o que para alguns pode parecer cansativo.

Zack Snyder por sua vez mantém a ótima característica de destacar batalhas físicas, algo essencial para um filme desse porte, principalmente por se tratar do Superman. Snyder tém se destacando ao dirigir adaptações de quadrinhos, já que também foi responsável por Watchmen e 300.  Não chega a ser um diretor fantástico, mas possui seu talento e isso deve ser levado em consideração.

Um dos defeitos do filme, talvez seja o excesso de efeitos especiais e explosões megalomaníacas na cidade de Metrópole. Em vários momentos pensei estar vendo um filme dirigido por Michael Bay, onde tudo pode ser explodido e destruído. Se a tecnologia ajuda nos efeitos do herói, a mesma prejudica quando se é usada em excesso.

E se alguém saiu prejudicado por esses excessos, com certeza foi o elenco, que, mesmo não sendo de primeira, tiveram poucas chances de mostrarem seu melhor. Russell Crowe faz um ótimo trabalho noa pele de Jor-El, mais participativo e boas cenas de luta, deixando um pouco para trás aquele lado cientista do kryptoniano. Kevin Kostner é outro bom destaque, e talvez um dos maiores tons de emoção do longa. Kevin vive Jonathan Kent, pai de Clark. O ator transmite o verdadeiro amor de pai, mesmo que adotivo e se apresenta essencial para o amadurecimento de de seu filho. Já a interprete de Lois Lane, Amy Adams faz um bom trabalho e até parece ter química com Henry Cavill, mas definitivamente não encanta.

Talvez o que determinou para que o trabalho de Amy não fosse tão interessante assim foi o fato da própria personagem ter sido inserida de uma maneira acelerada na história. Como nos trabalhos de Nolan não pode faltar aquele amor intenso, Lois entra na vida de Clark de uma maneira feita às pressas, sem muita explicação e passa a ser frequente em todos os problemas que envolvem o Superman, o que é completamente desnecessário, até mesmo para dar ao público um pouco de descanso, dando enfoque em outros aspectos do herói.

Já o ator Henry Cavill não faz milagres no papel, mas acerta ao se desprender da sombra de Cristopher Reeve e tentar fazer seu próprio Superman, Clark Kent ou Kal-El. Ainda falta muito para alcançar a perfeição na pele do herói, mas o final do filme dá indícios de que ele pode sim ter seu mérito.

Apesar de ter elogiado muito a estrutura do roteiro, o mesmo ainda há falhas principalmente em cenas de peso emocional. Pouca coisa é interpretada de maneira natural e soam até mesmo forçadas em alguns momentos. Isso talvez se deve ao fato do que disse anteriormente sobre eles tentarem nos fazer engolir essa premissa de seriedade e mais emoção.

Mas se é emoção que você está procurando, prepare-se para a trilha sonora de Hanz Zimmer. Assim como em O Cavaleiro das Trevas, Zimmer dita o tom do filme a todo momento, com um destaque na cena do primeiro voo, já conhecida pelos fãs pela carga emocional. O compositor tem deixado sua marca registrada por onde passa e faz trabalhos excelentes nas parcerias com Nolan.

Mantendo corajosamente a linha de O Cavaleiro das Trevas, O Homem de Aço agrada e dá indícios que a DC manterá o clima sério e utilizará em seus próximos filmes, a formula oposta de sua maior concorrente. Ao invés de fazer algo exuberante e exibicionista como a Marvel, fará de tudo para conquistar o público através de dilemas internos e proximidade dos heróis aos humanos. Só nos resta esperar para ver até onde essa formula dará certo, já que muitas vezes percebemos certos deslizes. Deu certo com o Batman, por pouco não deu com o Superman. Agora tentem imaginar um filme sério do The Flash ou dos Super Gêmeos.


Nota:

Nenhum comentário

‹‹ Postagem mais recente Postagem mais antiga ››

Postagens populares