Série Oscar 2013: Os Miseráveis


Filmes de gênero musical são verdadeiros divisores de opinião. Existem aqueles que adoram, seja qual for a temática, outros, apenas assistem, gostam de um ou outro, e tem aqueles que os odeiam.
Porém, é inegável que existe um caminho para que o gênero seja um sucesso de bilheterias: Fazer adaptações de musicais da Broadway. Obviamente, essa fórmula nem sempre funciona, recentemente, vimos o fiasco protagonizado por Tom Cruise em “Rock of Ages”, mas é fato que muitas produções entraram na história, como é o caso de Grease, A Noviça Rebelde, Evita, e o mais clássico: O Fantasma da Opera.

Em 2013, um filme provavelmente entrará para esse hall da fama, é grandioso, bonito, mas altamente superestimado.

Dirigido por Tom Hooper, Os Miseráveis, adaptação do famoso livro de Victor Hugo e inspirado no musical da Broadway, acontece durante a Revolução Francesa do séc. XIX. Jean Valjean é preso após roubar um pão para alimentar sua irmã mais nova. Solto tempos depois, ele tenta recomeçar sua vida e se redimir de todos seus erros. Ao mesmo tempo que precisa fugir da perseguição do inspetor Javert.

O grande erro do filme com certeza é seu tempo de duração e seu formato juntos. São quase três horas de filme, onde nada é falado, e, sim cantado, o que torna ainda mais cansativo e maçante. Em certo momento, muitos na sala de cinema começarão a olhar seus relógios e tentar achar uma outra posição para se confortar na poltrona. Se a duração tivesse sido menor, ou seguido um padrão onde existem diálogos comuns atrelados a números musicais, talvez o nível de empolgação ao decorrer da trama fosse maior.

Falando na trama, essa é outra que aparece em segundo plano. A preocupação em formar números musicais esplendorosos acaba fazendo com que a história em si seja deixada de lado, onde alguns pontos acabam ficando sem explicação. Além disso, o filme segue em variáveis de pontos altos e baixos. Quando você começa a se empolgar, entrar no clima do filme, imediatamente uma cena morna repleta de apelos dramáticos é incluída e lá vamos nós de novo olhar para o relógio. E é nesse ritmo que o filme segue por quase três horas, ou melhor, por duas horas e meia, pois o ato final é praticamente aquele que finalmente pode justificar toda sua badalação. É um ato realmente emocionante.

Obviamente, um filme com tantas indicações ao Oscar e cheio de moral perante à mídia não pode apenas ter pontos negativos, há também inúmeros positivos que merecem ser destacados.

Primeiramente, Tom Hooper, diretor do - também superestimado - vencedor O Discurso do Rei, se mostra profissional em criar cenas impactantes envolvendo close-ups rápidos e dinamismo envolvendo cenas complexas de se produzir. Vale lembrar sua ousadia em produzir as cenas em takes únicos, cantados ao vivo em set, sem precisar da dublagem. A dedicação e intensidade que o diretor explora em seu atores é incrível, isso sim é algo digno não só de entrar para a história, como também mudar o gênero em questão de forma de produção. A cada cena, podemos ver veias saltando e esforços físicos utilizados com tanta maestria. Exemplo disso é uma cena onde Russell Crowe e Hugh Jackman duelam cantando, algo extremamente difícil de se fazer.

Quanto ao quesito atuação, não há o que discutir no elenco, todos são extremamente bons não só como atores, mas também cantores. Hugh Jackman aparece em uma de suas melhores atuações, talvez o ator se desprenda de vez do fardo de Wolverine e passe a ser visto como um ator de grandes filmes. Por outro lado, a atuação de Anne Hathaway, apesar de boa, é elevada a níveis que não merece. A atriz pouco aparece, mas protagoniza um emocionante número musical com I Dreamed a Dream de forma intensa e impactante, mas não acredito que uma cena apenas seja o suficiente para convencer e mesmo sendo favorita a levar o prêmio de Melhor Atriz-Coadjuvante, acredito que existem outras belas atuações que merecem ser lembradas como Sally Field em Lincoln ou Jacki Weaver em O Lado Bom da Vida, que, mesmo não sendo atuações primorosas, ainda sim levam vantagem por manterem a boa regularidade durante o filme todo.

Voltando ao bom elenco, podemos destacar algumas atuações pontuais, como é o caso do casal de ladrões Thénardier, interpretados por Sacha Baron Cohen e Helena Bonhan Carter. Os dois protagonizam um dois melhores números musicais com Master of the House, uma canção divertida, bem humorada e muito bem desenvolvida. Além do fato dos dois serem os responsáveis pela quebra de gelo da trama. Outra ótima atuação com pouco destaque é a do garoto Daniel Huttlestone, intérprete de Gavroche, um garoto de rua que passar a ter uma importância maior no decorrer da história.

Mas o grande ponto forte do filme está em Russell Crowe, intérprete de Javert. O ator nos conduz com suas canções, quase sempre no mesmo ritmo, que parecem se encaixar perfeitamente em sua voz. Além de mostrar sua enorme qualidade como ator, o mesmo ainda nos apresenta como um grande cantor. Com certeza, esse ano o Oscar é dos coadjuvantes, até agora não vi nenhum que não esteja brilhando em seu respectivo papel.

Quanto às canções, todas são muito bem produzidas e escritas. É certo que algumas contribuem para deixar o filme cansativo, mas outras com certeza ajudam elevar a empolgação nas cenas, como é o caso das canções feitas em conjunto pelos cidadãos franceses, a exemplo da linda Do You Hear the People Sing?, que, na minha opinião é a mais emocionante e graciosa de todas. Red and Black e Look Down são outras que empolgam.

Mesmo com todos esses prós, infelizmente os contras acabam tomando uma proporção maior. As atuações e canções, mesmo que fantásticas e bem entoadas, não conseguem segurar o ritmo do filme.

Os Miseráveis, é com certeza o típico  filme musical que divide opiniões. Há quem ame, se emocione, saia da sala chorando, há aqueles que apenas acham um bom filme, e também há aqueles que nunca mais vão querer passar perto de um musical novamente. Eu me encaixo na segunda categoria. Acredito ser um filme muito belo de se assistir, que vale a experiência pela grandiosidade técnica que existe dentro dele, mas apenas uma vez. Se você é daqueles que, mesmo torcendo o nariz para musicais, ainda assim gosta de dar uma chance a eles, é uma oportunidade de passar a gostar do gênero, ou não. Mas se você não suporta filmes musicais, não hesite em passar longe da sala de cinema.

Nota:

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