Em 1959, a Disney lançava um de seus maiores clássicos da animação até os dias atuais: A Bela Adormecida, longa baseado em um conto de fadas em que uma princesa sofre uma terrível maldição feita pela bruxa: Ao completar 16 anos, espetará seu dedo numa roca de fiar e adormecerá até receber o beijo de amor verdadeiro.
Obviamente, o conto sofreu adaptações para chegar às crianças da época, já que existiam diversas versões dele, certamente pesadas para a compreensão infantil.
Depois de 55 anos, a mesma Disney, em sua nova mania de mostrar o outro lado da história, reedita o conto sob o olhar da vilã mais icônica de sua história: Malévola.
Ainda que baseado no conto de sua animação, esqueça diversos detalhes dele. Malévola se inicia na infância da agora fada e não bruxa. Ela vive na terra dos Moors, reino em que moram apenas criaturas místicas e conhece Stephan, um garoto órfão que invade suas terras e conquista o coração da garota. No entanto, com o passar dos anos a ganância de Stephan cresce e faz com que ele a traia de maneira imperdoável, o que causa um ódio de vingança por parte dela. A partir daí, sabemos qual é o desenrolar...Maldição, Aurora, roca, etc...
Desde o começo desse projeto, pensava o quão ousado ele era por um simples motivo: Porque diabos a Disney pensou em fazer um filme infantil sobre o ponto de vista de uma vilã? Afinal, é mais do que provado que a influência da empresa sobre as crianças, principalmente garotas, é enorme. Mas após assistir o filme, entendi a ideia, que não é tão nova assim.
Com a mudança dos conceitos contemporâneos, é necessário que haja uma nova forma de didática para com o público infantil. Não dá mais para manter a ideia de vilão e mocinho, príncipe encantado e princesas indefesas. A sociedade clama por mudanças há tempos e é exatamente isso que os estúdios, principalmente esse em questão, vem fazendo. Frozen e Valente são dois ótimos exemplos.
No entanto, Malévola erra naquilo que mais deveria acertar: No roteiro. Por mais que o projeto tenha sido longo (cerca de três anos), a impressão que dá é que tudo foi feito às pressas. Um primeiro ato introdutório, um segundo ato completamente morno e desnecessário e um terceiro com boa ação e feito para acabar a história, aconteça o que acontecer.
Talvez o erro tenha sido da própria Disney ao escolher Robert Stromberg como diretor. Ele foi o desenhista de produção de Avatar, Alice in Wonderland e Oz, Magico e Poderoso, ou seja, o cara optou por focar naquilo que mais sabe fazer. Destacar as belezas digitais e gastar todo aquele dinheiro dado a ele para fazer mais um filme no fundo verde. Pra que história?
Prova disso é a forma como os personagens são desenvolvidos. Com exceção à protagonista, todos são absurdamente rasos, inclusive a princesa Aurora. Nem mesmo a promissora Elle Fanning conseguiu fazer com a que a Bela Adormecida se destacasse. Quanto ao príncipe Filipe, é um tanto quanto lamentável a forma que ele é inserido na trama e o desenvolvimento do mesmo.
Felizmente, temos Angelina Jolie em um de seus melhores papéis nos últimos anos como Malévola. Não é pra menos, já que ela abraçou o projeto e criou a personagem à sua maneira. Uma coisa que diretor soube fazer muito bem foi o jogo de câmeras nela. Seus olhos e sua silhueta dão o destaque a mais e aumenta o clima sombrio à sua volta. Há muito tempo não via uma entrega tão intensa ao papel por parte dela.
Com roteiro fraco, Malévola é salvo pela grande atuação de Jolie. O filme falha na tentativa de criar um novo olhar para o conto da Bela Adormecida. Enquanto a animação atravessa décadas e décadas de sucesso, essa nova versão deve cair no esquecimento, e quando perguntarem às crianças sobre a história verdadeira, pode ter certeza de que Malévola continuará sendo a Bruxa não convidada para festa e que se transforma em um dragão.