Jobs




Após o falecimento de Steve Jobs, em 5 de outubro de 2011, muitos produtos foram anunciados para contar a história de um dos maiores empresários que o mundo já teve. Foram documentários e ínumeros livros produzidos para o mundo entender o homem por trás do mito. Porém, nenhum deles ganhou tanto destaque quanto Jobs, filme de baixo orçamento que trouxe Ashton Kutcher de volta às telonas, a estreia de Joshua Michael Stern na direção, e muita decepção.

Jobs começa em 2001, com a apresentação do produto que viria a ser o simbolo do retorno da Apple ao mercado: O Ipod. A seguir, o que parecia ser um prefácio empolgante para o espectador se torna uma narrativa cronológica. O filme volta cerca de trinta anos no tempo para acompanharmos o jovem Steve hippie andando descalço pela Universidade Reed. Logo em seguida, mais um corte seco e Jobs já está trabalhando na Atari, única empresa em que trabalhou como funcionário. Assim, entre músicas piegas e cortes secos, o filme se arrasta por pouco mais de duas horas.

O maior erro cometido por Stern e pelo roteirista Matt Whiteley talvez tenha sido aquilo que os mesmos acharam ter acertado: Mostrar toda a história do empresário sem querer desvendar sua mente criativa. Stern não soube medir a dimensão do projeto em que estava se metendo e o roteirista pensou que poderia contar toda a vida de Steve Jobs em apenas duas horas, algo que funcionaria em um especial feito por algum canal de televisão, mas não nas telonas.

Resultado desse Boeing pilotado por um piloto de teco-teco é um filme superficial, raso e muito corrido. Tudo é jogado para o espectador de forma repetitiva, sem a menor ligação, nem diferença entre uma cena e outra. Jobs está na faculdade, depois na Atari, depois em sua garagem e, em menos de trinta minutos, na sede da Apple em Palo Alto destratando qualquer um que discordasse de suas decisões ou não demonstrasse o mesmo interesse que ele tinha pela empresa.

Outro ponto mal explorado foi esse. Apesar de Jobs ser conhecido por toda sua genialidade, o empresário também tinha fama pelo seu temperamento difícil e pela forma de como ele passava por cima das pessoas. O retrato disso está no filme, mas um tanto quanto reprimido, tendo em vista que algo mais agressivo poderia acabar com a imagem de herói que estavam tentando criar.

Mesmo sem nunca ter lido nenhuma biografia de Steve Jobs, tive a sensação de que muitos fatos dentro da trama foram distorcidos e modificados para dar o tom dramático ao filme, sem sucesso, claro. Um exemplo disso é o fato de Bill Gates ter sido colocado como um dos vilões da história por ter roubado o software da Apple e construído a Microsoft, mas nem ao menos citar o fato sobre Jobs ter feito o mesmo com o sistema operacional de interface gráfica da Xerox, considerada por muitos do ramo o maior assalto da história da indústria. Além do fato de ter sido diretor executivo da Pixar e acionista máximo da Walt Disney, esse mais perdoável por questões de duração do filme.

Ashton Kutcher, por sua vez é o responsável pelo ponto positivo do filme junto às atuações em geral. O ator, por ser um rosto bem conhecido não tem um desempenho memorável, mas suas características físicas idênticas às de Jobs são impressionantes, entre a mais evidente está a forma de andar. Outras boas atuações são as de Josh Gad e Lukas Haas, intérpretes de Steve Wozniak e Daniel Kottke respectivamente. Os dois aparecem menos do que deveriam, mas contribuem muito para a atuação de Kutcher, principalmente nos pontos dramáticos. Uma pena que as boas atuações não foram o suficiente para salvar o filme.

Com roteiro mal estruturado, Jobs não cumpre o básico de um filme biográfico, que é captar a essência do personagem principal, e pode ser considerado claramente um fan-film com aspectos spielberianos. Apesar de não ter sido uma pessoa perfeita, Steve Jobs com certeza merece um biografia fiel à sua altura. Afinal, é inegável que suas ideias revolucionaram o mundo e sua genialidade continuará inspirando a todos no futuro da tecnologia. 

No mais, se ainda estivesse vivo, provavelmente Stern e Whiteley estariam no olho da rua e com as orelhas bem inchadas...
Nota:

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