Hitchcock


De uns anos pra cá, a industria do cinema vem apostando em certas formulas para suprir suas necessidades criativas em relação aos enredos. Entre elas estão tramas que retratam grandes ícones da história do mundo, muitas delas politicas, como é o caso de Lincoln, interpretado por Daniel Day-Lewis, A Dama de Ferro, onde Maryl Streep deu vida à Primeira-Ministra, Margareth Tatcher e J. Edgar, com Leonardo DiCaprio interpretando o grande chefe do FBI, John Edgar. Mesmo sendo histórias complexas de se traduzir para o cinema, muitos renderam boas indicações ao Oscar. Em 2013, resolveram utilizar a formula não para retratar mais um politico, mas um dos diretores mais revolucionários do cinema: Alfred Hitchcock.

Baseado no livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose, de Stephen Rebello, o filme mostra toda a obsessão do diretor para conseguir filmar um de seus maiores sucessos: “Psicose”, onde não teve apoio de nenhum estúdio e teve de financiá-lo com seu próprio dinheiro. A direção é assinada pelo estreante Sacha Gervasi.

Sacha optou por não torná-lo um documentário, ao invés disso, decidiu utilizar a mescla de gêneros como comédia, drama e suspense, o que dá um tom de liberdade maior ao longa.

Apesar da direção ser muito bem trabalhada, os grandes pilares do filme são os atores. Vou começar a falar das mais jovens do elenco, Scarlett Johansson e Jessica Biel que interpretam, respectivamente, Janet Leigh e Vera Miles. A primeira faz uma grande atuação no papel da protagonista de Psicose, a atriz entende bem o que é trabalhar com Hitchcock e toda sua relação com o diretor. Acredito que muito dessa boa atuação e dinâmica no filme são provenientes de seu trabalho com Woody Allen, que pode ser considerado, no mínimo parecido. Já Jessica aparece no papel da maior decepção do cineasta. Vera Miles era a escolhida para virar a grande atriz de Um Corpo que Cai, Alfred sonhava em transformá-la na maior estrela da época, até Miles ficar grávida e acabar com todas as suas aspirações, o fazendo criar um rancor pela atriz. Jessica se comporta muito bem no papel, que sente um certo receio de voltar a trabalhar com Hitchcock em um filme completamente duvidoso. Outra ótima atuação é de James D’Arcy no papel de Anthony Perkins.

Mas é impossível comentar sobre o filme sem citar os maiores alicerces dele: Anthony Hopkins e Helen Mirren. Hopkins, irreconhecível graças às maquiagens, faz um dos papeis mais memoráveis e traduz tudo aquilo que esperamos ver do grande cineasta que é Hitchcock. Seu laboratório é completamente fantástico nesse papel. Suas caras, seu tom sarcástico, sua postura e o ar misterioso que o ator traz no papel são incrivelmente precisos. Na maioria das vezes, não sabemos se estamos vendo Hopkins atuando ou Alfred Hitchcock trabalhando. É simplesmente fantástico. Já Helen Mirren é o complemento de toda essa atuação primorosa de Hopkins. A atriz é a responsável por finalmente trazer aos olhos do espectador quem foi Alma Reville, sua esposa. Podemos dizer que ela, de certa maneira é o ponto central do filme, onde mostra toda sua importância na carreira do diretor. Todos os seus dramas, e até mesmo esforços para salvar seu casamento, tendo em vista os ciúmes que sentia das fantasias de Alfred com suas belas loiras protagonistas. Já dizia o velho ditado de que por trás de um grande homem, sempre há uma grande mulher

Muito se dizia dos mistérios que Hitchcock tinha com as atrizes principais e suas obsessões pessoais. Tudo isso é retratado de forma poética, o que nos faz pensar se aquilo foi ou não real. Como o fato do diretor ter, em seu camarim, um buraco para espiar suas atrizes se trocando, e a produção da famosa cena do chuveiro, onde a mesma toma proporções intensas e dramáticas. Algo que não aconteceu, já que a própria Janet Leigh disse uma vez que foi uma cena tranquila de se fazer. Mas, talvez o grande erro da trama seja a alucinação envolvendo o grande inspirador de Psicose, o serial killer Ed Gain. O diretor se envolve tanto com a produção, que acaba imaginando Ed lhe dando algumas sugestões psicopatas de como tomar certas decisões. Apesar de não ser constante, isso tira todo o glamour das cenas, as tornando um tanto quanto clichês.

Com tom sarcástico e completamente nivelado por grandes atuações, Hitchcock, mesmo seguindo uma linha tênue entre o que é real e o que é ficção, é recomendável para todos os fãs da sétima arte. Se certas atitudes do diretor na trama são verídicas ou não, nunca saberemos. Afinal, não é por acaso que o grande Alfred Hitchcock é chamado de O Mestre do Suspense.


Nenhum comentário

‹‹ Postagem mais recente Postagem mais antiga ››

Postagens populares