Série Oscar 2013: Lincoln

"Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo" - Abraham Lincoln
Lincoln, filme dirigido por Steven Spielberg, conta a história do 16° presidente dos Estados Unidos e sua luta pela votação da 13ª emenda constitucional para abolir a escravidão no país, e acabar com a Guerra Civil, desencadeada pela batalha entre o Norte comandados pela União, e os Confederados, estados separatistas do Sul, onde a economia depende da escravidão. O filme é baseado no livro, Team of Rivals, onde o presidente formou seu gabinete com integrantes do partido de oposição, derrotados na ultima eleição.

Apesar da Guerra Civil ter sido violenta e arrematadora, esse não é o foco de Steven Spielberg no filme. Por ter sido o primeiro republicano eleito dos EUA, Abraham sofria uma pressão gigantesca do partido democrático, principalmente pelo fato de ser o responsável por  liderar o país durante a maior crise interna do país, e é aí que está o ponto do diretor, que vai além e não só procura mostrar seu lado político, estrategista e advogado, como também mostra o lado humano, um pai de família preocupado e depressivo.

Neste caso, vemos um Abraham Lincoln cansado, envelhecido devido às preocupações com a Guerra Civil e sua batalha dentro da câmara para conseguir votos para a 13ª emenda, e sua relação irregular com a esposa - Mary Todd Lincoln - e, apesar muitos biógrafos relatarem que o presidente era infeliz com o casamento, vemos uma relação amistosa, porém turbulenta entre os dois, que chegam a diálogos e discussões ora fervorosas, ora serenas.

Daniel Day -Lewis interpreta o presidente de uma maneira única. A caracterização e sua silhueta faz com que público pense que está frente à frente com o próprio Abraham Lincoln, o ator dificilmente fez algum papel ruim em sua carreira, mas me arrisco a dizer que este foi um de seus mais primorosos personagens, que ficará marcado na história do cinema. Merecedor do Oscar disparadamente.

Tommy Lee Jones interpreta Thaddeus Stevens, político e membro do Partido Republicano e  um dos maiores apoiadores da abolição no país. Esse, talvez seja a maior surpresa no filme, não pela qualidade indiscutível do ator, mas por ter tido pouco destaque perante à mídia. Jones no papel de Stevens é tão completa, que em todos os momentos em que vai haver algum diálogo, o público espera alguma sacada sarcástica e genial. Apesar de ter sido indicado, dificilmente levará a estatueta de melhor ator coadjuvante.

Infelizmente, o filme não é feito apenas de pontos fortes. A trama apresenta uma forma irregular em questão de clímax. O filme é dividido entre pontos altos, ápices, e momentos mornos, que acabam se tornando maçantes e politicamente cansativos. Uma verdadeira montanha - russa.

Fora isso, Steven Spielberg conseguiu manipular a trama à sua maneira, deixando que os atores fizessem aquilo que sabem, apresentando, como sempre, o lado humano da situação sem precisar partir para a caracterização de semideus do presidente, isso com certeza é um ponto determinante no filme, provando, que Abraham Lincoln nunca foi unanimidade e tinha seus erros, além do fato de que sua estratégia para conseguir o que queria, era contra todos os princípios éticos de seu cargo. Talvez, Spielberg tinha o intuito de utilizar o presidente como referência aos tempos atuais, onde tudo que é feito politicamente, seja para benefícios do povo, ou da elite, são feitas por baixo dos panos, e, por muitas vezes através de estratégias que interessam terceiros. Ao fim do filme, o personagem de Tommy Lee Jones deixa isso bem claro.

Para controlar o clima do filme, o diretor usufruiu de técnicas já apresentadas como características em seus filmes. Planos abertos, lentes acinzentadas para retratar a situação, e, essa mais marcante, a trilha sonora ao lado de John Williams. Spielberg procura acrescentar apelos dramáticos em tudo o que produz, mas, desta vez não existe um apelo significativo. Ele está lá, mas é cirurgicamente controlado, e não há ninguém melhor para decidir se vamos ou não nos emocionar, do que John Williams.

Com argumento irregular, porém didático, tecnicamente impecável e bonito de se ver, Lincoln nos dá uma verdadeira aula de história de maneira única e emocionante, mostrando que até mesmo um semideus tem seu lado ser humano. Injusto ou não, com certeza, o filme levará algumas estatuetas para casa. Afinal, Spielberg sabe, como ninguém, bajular a Academia da maneira certa.

Nota:


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