A crise de 2008 nos EUA gerou proporções globais e se originou devido a uma elevação manipulada dos preços dos imóveis. A chamada bolha levou os preços às alturas e depois ao chão, em que, inclusive culminou na falência do tradicional banco de investimentos americano Lehman Brothers, fundado em 1850.
Sim, este é um assunto chato que poucos possuem familiaridade. Inclusive, o cinema tentou algumas vezes abordar o tema, mas sem muito sucesso. "Margin Call" é o melhor, mas trata com muita seriedade. Mas o diretor Adam McKay resolveu contar sua versão da crise, e acredite, o assunto se torna no mínimo interessante.
"A Grande Aposta" é baseado no livro homônimo de Michael Lewis e conta a história de cinco homens que, de maneira diferente, conseguiram prever que o sistema financeiro americano iria quebrar. Michael Lewis (Christian Bale) é o primeiro a descobrir e aposta todo o fundo de sua empresa num seguro aos bancos, algo que cientista financeiro nenhum recomendava. Jared Venett (Ryan Gosling) descobre e passa a vender esses seguros do banco em que trabalha a seus clientes, um deles é Mark Bauman (Steve Carell), dono de uma corretora que enfrenta problemas pessoais. Paralelamente, dois iniciantes percebem que podem lucrar e também apostam na crise com a ajuda de um guru de Wall Street recluso, Bem Rickert (Brad Pitt).
O grande diferencial do filme é a dinâmica usada na edição e a forma com que McKay aborda o assunto. O diretor, conhecido por suas parcerias com Will Farrell, ironiza e ri da crise sem dar glamour algum a esse meio. Ele encontra seu lado ridículo e absurdo para realizar uma caricatura do cenário financeiro e todos que os rodeiam (vide cabelos dos personagens). Claro, a linha entre o drama e a comédia é tênue, afinal, a situação de 2008 fez com que milhões perdesse o empregou ou fossem despejados de suas casas.
Um dos problemas que poderiam ter prejudicado o filme é a linguagem complexa do mundo dos negócios. Mas a dica é não se prender tanto aos termos. Alguns são até importantes mas não alteram em nada o grande mote do filme, então é possível seguir em frente mesmo não entendendo uma palavra do que os personagens dizem, o entendimento do conjunto é o importante. Além disso, o longa brinca diversas vezes com esquetes de famosos explicando os termos, como por exemplo Margott Robbie numa banheira ou Selena Gomez em um casino. São sequências divertidas, que refrescam e simplificam os assuntos complexos. McKay ainda faz alguns atores quebrarem a quarta parede para conversar diretamente com o público.
O elenco é bem escolhido e todos fazem ótimos trabalhos, a direção dos atores é uma mistura de Martin Scorses (McKay não poupa referências a "O Lobo de Wall Street") e David O. Russell, que transforma seus atores em personagens extremos numa linha em que se sabe pouco sobre eles.
Ryan Gosling é o que mais aparece nessa condição. O personagem também é o narrador e faz essa ponte entre o público e a trama. Ele faz um bom trabalho, um pouco mais à vontade do que em outros filmes.
Christian Bale é Lewis, um homem que possui sérios problemas de socialização, mas um gênio em cálculos e previsões financeiras. Não à toa, encontrou primeiro que todo mundo uma forma de lucrar quando a bolha imobiliária estourasse. O ator está ótimo como um cara introspectivo que fica em sua sala estudando e ouvindo heavy metal.
Mas o grande destaque é Steve Carell. O personagem é o retrato do extremo da crise: Explosivo e preocupado. Mark Baum é o mais desenvolvido de todos. Enquanto não há quase informação dos outros, deste sabemos que perdeu um familiar e sofre desde então, desacreditado no sistema. Talvez, este caminho que o personagem leva no decorrer da trama seja o grande pecado do filme. Não havia espaço para dramatizar tanto quanto foi feito, que deixou um tanto quanto piegas.
"A Grande Aposta" é um pouco difícil e confuso de se assistir, mas mesmo assim a sensação que fica no final é de satisfação. O filme cumpre o que promete e torna um assunto que poderia ser maçante numa narrativa divertida. Ele te faz querer entender melhor o porquê da crise. Ele se conduz no mesmo formato de "O Lobo de Wall Street", mas com objetivo mais consciente e clima totalmente contrário, o de ridicularizar e retratar o quão cruel foi a crise de 2008 e o quanto isso ainda prejudica o povo americano
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